DELATOR GRAVOU CONVERSA COM ASSESSOR DO SENADOR FERNANDO BEZERRA

O senador Fernando Bezerra Coelho Foto: Marcos Oliveira / Agência O Globo

Polícia Federal obteve a gravação de uma conversa entre o operador financeiro e delator João Carlos Lyra e Iran Padilha, ex-assessor do senador Fernando Bezerra (MDB-PE), atual líder do governo Bolsonaro no Senado e alvo de operação deflagrada na quinta-feira. Na conversa, ocorrida em fevereiro de 2017 e gravada pelo próprio delator, Lyra cobra Padilha sobre pagamento de um “empréstimo” milionário que ele e um outro operador, Eduardo Leite, haviam feito a Fernando Bezerra nas eleições de 2014. Leite também fez delação premiada.

Lyra era operador de repasses milionários de propina de empreiteiras com contratos no Ministério da Integração Nacional na época em que Bezerra era ministro, durante o governo da ex-presidente Dilma Rousseff. Segundo as investigações, o empréstimo de R$ 1,7 milhão seria pago pela OAS, mas isso acabou não ocorrendo por causa dos efeitos da Operação Lava-Jato. Lyra, então, teve que cobrar do próprio assessor do senador, que havia sido responsável por receber os pagamentos.

“Na reunião, da qual participaram apenas o depoente e Iran Padilha, o depoente cobrava a Iran Padilha o montante devido por Fernando Bezerra De Souza Coelho em relação ao empréstimo concedido pelo depoente e Eduardo Freire Bezerra Leite no valor de R$ 1.700.000,00 (um milhão e setecentos mil reais) nas eleições de 2014; que nessa reunião o depoente apresentou para Iran Padilha uma planilha com diversas simulações da correção do dinheiro, simulando as taxas de 1,5%, 2%, 2,5%, 3%, 3,5% e 4%” relatou Lyra, sobre a conversa.

O GLOBO teve acesso à transcrição do áudio de 20 minutos, feito pela perícia da PF. Lyra e Padilha falam sobre marcar um encontro com “Fernando pai” sem a presença de outras pessoas, e o operador financeiro questiona ao assessor sobre a taxa de juros para o pagamento dos valores.

Lyra: — Eu fiz um e meio, dois. dois e meio, três e três e meio

Padilha: — Certo.

Lyra: — Certo, ai, eu quero que o senhor diga: João o que é que é justo.

Padilha: — Certo.

Lyra: — Certo. Aí, não tem arrudeio, entendesse Iran? Se você disser: João, um e meio, dois, dois e meio.

Padilha: — Tô entendendo.

Em seguida, eles conversam sobre locais para os pagamentos, e Lyra questiona se São Paulo não seria “arriscado”, pelo fato de ter que se identificar na entrada dos prédios empresariais. Padilha afirma que não deseja se envolver diretamente no assunto dos pagamentos porque já estaria com os “braços cansados”.

Lyra: — Mas se não for, o senhor diz onde seria.

Padilha: — Claro e… ininteligível.

Lyra: — E até o final de fevereiro ele arrumava os 500.

Padilha: — Isso… Aí eu não quero me envolver, entendeu? Eu já me sacrifiquei demais, o braço cansa.

Lyra: ù Eu sei disso.

Aos dez minutos do áudio, Lyra questiona Padilha sobre o encontro com “Fernando pai”.

Lyra: — E quem participaria da reunião? Fernando pai ou o filho?

Padilha: — Acho que é o pai…

Lyra: — Eu e ele né.

Padilha: — É…

Lyra: — Não vem nada de advogado, essas coisas, não?

Padilha: — Não, que eu saiba não.

Ao fim da conversa, Padilha se compromete a marcar o encontro com Fernando Bezerra e avisar a João Carlos Lyra de uma data. Esse encontro, segundo o delator, acabou não acontecendo efetivamente.

A defesa de Bezerra foi procurada para comentar os diálogos, mas não respondeu. Ao falar sobre a operação, o advogado André Callegari disse à “Folha de S.Paulo” que a operação seria uma retaliação do ministro Sergio Moro por declarações do líder de que uma eventual saída dele do governo seria esquecida em 60 dias. Em nota, afirmou que “a única justificativa do pedido (de busca e apreensão) seria em razão da atuação política e combativa do senador contra determinados interesses dos órgãos de persecução penal”, afirmando as as medidas eram “extemporâneas e desnecessárias”. A defesa de Iran Padilha não respondeu.

Por Aguirre Talento / O Globo

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