POR PROCÓPIO JÚNIOR: NATAL DE TEMPOS EM TEMPOS

Imagem: Iphan – A Casa Rua da Conceição, nº 601, em Natal-RN, foi tombada por sua importância cultural.

Aos que procuram guardar na memória um tempo criança vivido nos limites da cidade do Natal; aos que costumam colher lembranças de momentos arrebatadores e arquivar, em seus corações, instantes tão vivos que provocam uma bi-locação sentimental, o autor ofereçe esta obra como um compêndio histórico desta Cidade dos Reis Magos.

De acordo com Procópio Júnior, Natal de Tempos em Tempos busca realizar um retrato descritivo das ruas, praças, casarões, personagens, costumes e fatos da cidade do Natal, que o tempo distanciou, mas que continua presente na sua história como marco da sua imortalidade.

O autor narra sobre o tempo de antes e de agora. Sobre logradouros inesquecíveis e eventos raros. Escreve sobre os insurretos de 1935; sobre o Campo de Concentração Potiguar no período da 2ª Guerra Mundial. Lembra os heróis dos raids náuticos e andantes. Escreve sobre os primeiros bairros da cidade como também sobre suas ruas renomeadas, mas que guardam, por pirraça, os nomes primitivos. Lembra logradouros como o Tabuleiro da Baiana, o Beco da Lama, as Pontes sobre o Potengi. Refere-se às andanças da Coluna Capitolina, além das inesquecíveis entidades que têm a Rádio Educadora do Natal – REN, como um dos seus marcos pioneiros.

RUA DA CONCEIÇÃO

A Rua da Conceição, uma das primeiras ruas da cidade do Natal, vendo-se ao lado esquerdo o “sobradinho”, construção conhecido por véu de noiva.

Quem trafega em frente ao prédio do Poder Legislativo do Rio Grande do Norte, ao lado do Palácio da Cultura, ou visita o Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Norte, normalmente desconhece estar caminhando por uma das ruas mais antigas da cidade do Natal – a Rua da Conceição.

Essa artéria, cujo local era um grande matagal, formava com a Rua Santo Antônio, a chamada Rua do Caminho do Rio de Beber Água. À época só existiam duas ruas em Natal: a do Caminho de Beber Água, hoje da Conceição, e a Rua da Cadeia, que acompanhava o alinhamento da Igreja Matriz. Por essa razão alguns documentos registram esse logradouro como Rua da Matriz.

As casas que começaram a ser construídas na Rua da Conceição estavam todas voltadas para a Praça André de Albuquerque (à época Rua da Cadeia). A Rua da Conceição era limitada pelas cercas dos fundos das casas. Com o tempo, casas residenciais foram sendo construídas em ambos os lados da Rua, além de casas comerciais e órgãos públicos.

Naquela via foram erguidos os prédios da Fazenda Pública, o Prédio Sede do Poder Executivo, a Casa do Nicho e a Casa do Governador. As duas últimas construções, quase na esquina da Rua Ulisses Caldas.

No final do séc. XIX, segundo Câmara Cascudo, homens proeminentes moravam naquela rua, além de vários comerciantes. Ali se encontrava o Armarinho de Manuel Joaquim da Costa Pinheiro, o Brilhar Americano, a Alfaiataria de Gabriel Narciso Aranha, e, no final, fazendo beco com a Matriz, a Padaria Flor do Natal. Essa Padaria vendia cerveja, anunciando, em versos, ser um produto estranho na cidade.

Do lado oposto, foram erguidas várias casas, entre elas um sobrado (agora Museu Café Filho), pertencente ao capitão José Alexandre Gomes de Melo, morador da Rua da Palha (hoje Vigário Bartolomeu), que o construiu nos fundos da casa onde residia. Esse prédio foi tombado e ficou conhecido como “Sobradinho”.

Grandes demolições ocorreram na Rua da Conceição, agora limitada entre a Igreja de Nossa Senhora da Apresentação (antiga Matriz) e a Rua Ulisses Caldas. A primeira (1908), para instalar o Parque do Palácio do Governo (atual Palácio da Cultura). A segunda (1914), para dar lugar à Praça 7 de Setembro. E a terceira (1981), quando foram demolidas as casas que ficavam defronte à Praça 7 de setembro, para a construção do Prédio da Assembleia Legislativa, inaugurado em 1º de março de 1982.

Nasci na Rua Vigário Bartolomeu. As casas da Rua da Conceição e da rua que me viu nascer ficavam “de costas” umas para a outra por razões estruturais e não por rusgas dos humanos. Vivi as décadas de 1940, 1950 e 1960 naquela vizinhança. Residiam na Rua da Conceição o Dr. Nestor dos Santos Lima; o Tabelião Bartolomeu Fagundes e seu filho Armando; Seu Rangel Carvalho – irmão do famoso artista Ratinho, que fazia dupla com Jararaca; e os Poetas Evaristo de Souza e seu filho Nilberto. Lá estava instalada a Escola Profissional Feminina de Natal, dirigida pela Professora Maria Eutália Menezes Ribeiro. Vi o tempo passar na Rua da Conceição, sem perceber que, no presente, caminhava pelo passado da história da cidade do Natal.

Algumas casas de números ímpares ainda estão de pé, esperando, como condenadas, o carrasco do desenvolvimento. No entanto, o progresso que caminha a passos largos, passou rapidamente por aquelas seculares construções, deixando-as intactas e esquecidas em pleno séc. XXI, como um marco do início da cidade do Natal.

Sobre o autor: Manoel Procópio Júnior é pesquisador, escritor, procurador aposentado da Assembleia Legislativa do Rio Grande do Norte – ALRN, advogado, mestre maçom e membro do Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Norte – IHGRN, e da Academia Maçônica de letras do Rio Grande do Norte – AMLERN.

One response to “POR PROCÓPIO JÚNIOR: NATAL DE TEMPOS EM TEMPOS

  1. Parabéns primo você descreve de uma forma que parece estarmos presentes no momento. É reviver e viver momentos felizes de um passado ainda tão presente em cada um de nós. Fiquei feliz com seu trabalho, sucesso. Josenilde e familia

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