EM TENTATIVA DE APROXIMAÇÃO, CRIVELLA VAI A EVENTO EVANGÉLICO COM BOLSONARO

Jair Bolsonaro se encontra com Marcelo Crivella Foto: Gabriel de Paiva / Arquivo O Globo

No momento em que tenta consolidar uma aproximação com o presidente Jair Bolsonaro, o prefeito Marcelo Crivella participa, ao lado dele, de mais uma agenda no Rio, desta vez um evento evangélico neste sábado. A ida em um megaevento da Igreja Internacional da Graça de Deus, na Enseada de Botafogo, no Rio, é mais um aceno de Bolsonaro a esse grupo religioso.

Para Crivella, por sua vez, o evento é uma oportunidade de se acercar do presidente, de quem busca o apoio para a campanha de reeleição para a prefeitura do Rio este ano. Os dois já apareceram juntos em outras ocasiões. Em dezembro do ano passado, os dois estiveram juntos na formatura de 205 aspirantes da Marinha. Duas semanas antes, eles já haviam estado lado a lado em um outro evento na Vila Militar. No feriado de São Sebastião, Bolsonaro passou quase duas horas em uma cerimônia organizada por Crivella. Na ocasião, negou que o apoio eleitoral de Bolsonaro tenha sido discutido no encontro.

— Não falamos de política. Falamos de assuntos de interesse do povo — disse Crivella, que citou ainda a “afinidade” entre Bolsonaro e lideranças evangélicas. — O presidente tem forte apoio entre os evangélicos. Há uma afinidade de valores, de princípios.

O prefeito já participou de um mutirão de coleta de assinaturas para a criação do Aliança pelo Brasil, partido que o presidente busca fundar depois que saiu do PSL. Crivella já havia prometido ajudar no recolhimento de assinaturas, inclusive em igrejas. Também postou em dezembro um vídeo em suas redes sociais no qual presta solidariedade ao senador Flávio Bolsonaro (sem partido-RJ), investigado pelo Ministério Público do Rio por peculato e lavagem de dinheiro.

“Presto minha solidariedade ao Senador Flávio Bolsonaro, pela grande perseguição que vem enfrentando. Quando não somos coniventes com a corrupção, é isso o que acontece: somos atacados. Mas a verdade sempre vai prevalecer. Não vão derrubar os que foram, democraticamente, eleitos”, escreveu Crivella na postagem em que exibe o vídeo com seu apoio a Flávio.

O presidente já afirmou que “gosta” do prefeito do Rio, mas disse que não  vai anunciar apoio a nenhum candidato ainda.

A tentativa de aproximação entre Crivella e Bolsonaro se intensificou desde o fim de 2019. Em baixa nas pesquisas de avaliação, o prefeito do Rio tem, cada vez mais, mostrado apoio às políticas do governo federal. Segundo pesquisa do Datafolha encomendada pelo GLOBO e pelo jornal “Folha de S.Paulo”, a gestão de Crivella é reprovada por 72% dos entrevistados, que a consideram ruim ou péssima.

O evento

O evento deste sábado é da  Igreja Internacional da Graça de Deus, fundada e liderada pelo pastor RR Soares. É a terceira organização religiosa com maior dívida ativa junto à União. Sozinha, deve R$ 144,3 milhões aos cofres públicos, segundo dados da Procuradoria-Geral da Fazenda Nacional.

O valor corresponde a 9% do R$ 1,6 bilhão devido por organizações religiosas do país e só fica atrás das dívidas da entidade filantrópica Instituto Geral Evangélico (R$ 521 milhões), que não existe mais, e da Ação Distribuição (R$ 381 milhões), igreja de fachada e braço de uma organização criminosa que fraudou os cofres da Secretaria de Fazenda de São Paulo, investigada pela Polícia Federal em 2012. O valor inclui débitos tributários, previdenciários e do Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS).

Como mostrou o GLOBO no ano passado, a flexibilização das obrigações de igrejas perante a Receita Federal é uma das principais reivindicações da bancada evangélica e de líderes de igrejas neopentecostais junto a Bolsonaro. Entre as demandas está o fim de multas cobradas pelo Fisco. O presidente já afirmou publicamente que estuda acabar com impostos para igrejas e defendeu que o processo de prestação de contas das organizações religiosas seja descomplicado.

Bolsonaro tem taxa de aprovação mais alta que a média da população brasileira entre os evangélicos. Em dezembro, o percentual de evangélicos neopentecostais que consideravam o governo ótimo ou bom era de 39%, contra 30% na população em geral, de acordo com o Datafolha.

O Globo

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