POSTURA DE MANDETTA SOBRE ISOLAMENTO INCOMODA GOVERNADORES

Presidente da República, Jair Bolsonaro, e ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta – Foto: Isac Nóbrega/PR

A postura adotada pelo ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, de não repudiar com veemência as declarações do presidente Jair Bolsonaro sobre o isolamento da população durante a pandemia do novo coronavírus incomodou governadores de todo o país.

Chefes de Executivos estaduais que adotaram medidas restritivas para tentar conter o avanço da doença diziam se basear em recomendações do próprio Ministério da Saúde para orientar a população a ficar em casa. A mudança de discurso de Mandetta acabou gerando irritação e críticas entre os governadores.

A avaliação quase que unânime é a de que Mandetta tinha apenas duas opções na mesa: a de ceder a Bolsonaro ou a de pedir para sair do cargo. Em caráter reservado, governadores disseram ao GLOBO que, “lamentavelmente”, o ministro acabou optando por se colocar numa “posição subalterna” ao mandatário do Palácio do Planalto.

Embora Mandetta viesse dando sinais de conversão de rota para se alinhar a Bolsonaro, a tentativa do ministro de se equilibrar entre as recomendações médicas e o discurso contrário ao que chamou de “travamento do país” foi lida como sinal de enfraquecimento político.

Governadores disseram que Mandetta, que vinha se consolidando como um técnico habilidoso diante de uma grave crise, sucumbiu ao cargo, diminuindo de tamanho.

A ordem entre os chefes de Executivos estaduais, no entanto, foi a de manter as restrições à circulação, apesar dos gestos do ministro. O entendimento é o de que, mesmo com as pressões de Bolsonaro, Mandetta deve se seguir fiel ao juramento de Hipócrates e o código de ética médica — mesmo que seja num papel de equilibrista.

O primeiro sinal de enfrentamento — e até repúdio velado — ao ministro veio na carta divulgada por 25 governadores, em que eles reafirmaram a adoção das medidas baseadas na ciência.

“No que diz respeito ao enfrentamento da pandemia global, vamos continuar adotando medidas baseadas no que afirma a ciência, seguindo orientação de profissionais de saúde e, sobretudo, os protocolos orientados pela Organização Mundial de Saúde (OMS)”, diz o documento divulgado nesta quinta-feira.

Horas depois de o texto se tornar público, Mandetta se reuniu, por videoconferência, com secretários estaduais de Saúde. Segundo relatos feitos ao GLOBO, em nenhum momento, falou-se da possibilidade de se adotar o chamado isolado vertical, como vem defendendo Bolsonaro.

— Mandetta se comprometeu a manter orientações técnicas e baseadas na ciência — disse ao GLOBO Alberto Beltrame, secretário de Saúde do Pará.

Embora o presidente tenha dito que seu ministro da Saúde está convencido de que o “isolamento vertical” (de idosos e pessoas com doenças) seria a melhor estratégia para combater a pandemia do novo coronavírus, a avaliação da comunidade médica é de que, num país nas dimensões do Brasil, é muito difícil adotar uma medida linear. O próprio Mandetta tem dito que as diferenças regionais devem e precisam ser observadas na adoção de medidas.

O Globo

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