“Quem está com a Igreja estar com o Povo, quem está contra o Povo estar contra a Igreja”. Eis uma afirmação teológica e politicamente razoável. A Igreja é o Povo de Deus (cf. Lumen Gentium, cap. II). Ela é a congregação dos consagrados a Deus, em Jesus Cristo, pela ação do Espírito Santo. Ela é o Corpo de Cristo (cf. CIC, 787-89). Esta comparação da Igreja com o corpo projeta uma luz sobre os laços íntimos entre a Igreja e Cristo. Ela não é somente congregada em torno dele; é unificada nele, no seu corpo (idem). Uma das muitas belezas da Igreja é comunhão. A fonte desta é a Trindade. Por isso que, historicamente ela está no mundo para evangelizar e tal ação consiste em anunciar o eterno amor de Deus pelos seus filhos. Eis um ponto que merece uma conseqüencial afirmação: “por mais pecadores que o sejamos, nenhum de nós, seres humanos, é filho do Mal; mas somos filhos de Deus”.
“A Igreja é, em Cristo, como que o sacramento ou sinal e instrumento da união com Deus e da unidade de todo o gênero humano (cf. LG, n. 1)”. Qual é a outra instituição que tem tal princípio como base segura para consecução da unidade na diversidade? A política como atitude humana e estatal de gerenciar a “res publica” passa por uma forte crise paradigmática. Há uma profunda e preocupante carência de lideres e políticos que tenham uma visão “eclesial” do simbólico presente na religião como meio de realização do que é coletivo. O individual é apolítico. Sem abertura para o Outro que mostra sua face na e com a comunidade não é possível uma prática pessoal que vise a sociedade. O caminho para uma ética do Bem Comum pode ser pensado, na atualidade, com esta proposta epistemológica. Quem ataca o que é corporificado é o vírus. A ação política das e nas comunidades está virulenta. Tal postura torna o corpo doente e mata as possibilidades de vida. A justiça gera a paz, que por sua vez, promove a vida. O desrespeito das condições que a dignificam não matam a Deus; mas destroem a Humanidade e seu habitat natural.
A Igreja, hoje, é chamada, mais uma vez, a ser profética ao defender a pessoa. Quem não respeita o que é comum e próprio da pessoa perfura com uma lança o coração de Cristo e o coração da Igreja. Por isso, pensemos com a Igreja e como a Igreja quando a mesma cuida e fala em favor da pessoa humana e quando estar ao lado dela, ou seja, sempre! Os solipsistas de plantão estão se perdendo e vão se perder ainda mais. Hoje quem não se une a Alguém perde o sentido do humano. O mundo está gritando por Deus porque não escuta sua Palavra. Existe uma confusão do que é subjetivo e do que é objetivo. Eis um dos dilemas filosóficos da Posmodernidade. O Homem precisa conciliar os dois mundos; contudo, não sabe como fazê-lo, nem por onde buscá-lo. O Cristianismo, ou mais propriamente Jesus Cristo, tem a resposta. Ela é radical porque tem um fundamento, que não se confunde com o fundamentalismo. A verdade de Cristo é a aquela da Revelação do amor amante e do amor que deve ser amado. A Humanidade necessita de lugares de encontro com esta verdade de Deus. O questionamento é: quem pode oferecê-los? A Igreja, pela sua Tradição kairótica, deve manifestar a bondade de Deus no tempo atual, sendo com o Povo e no meio do Povo este sacramento universal de salvação.
Por isso, podemos categoricamente dizer que quem está contra a Igreja estar contra o Povo; pois a Igreja é o Povo constituído por cada pessoa humana, desde a sua concepção até a sua morte natural. Os cristãos não podem dispensar esta real possibilidade eclesial e política. Assim o seja!