EX-MULHER DE BOLSONARO NA MIRA DO MINISTÉRIO PÚBLICO

Ana Cristina Siqueira Valle, ex-mulher de Jair Bolsonaro Foto: Custódio Coimbra / Agência O Globo

Não são apenas os ex-policiais Fabrício Queiroz e Adriano da Nóbrega que estão trazendo para o presente uma parte ainda não muito nítida do passado da família do presidente da República.

Ex-mulher de Bolsonaro, a advogada Ana Cristina Siqueira Valle também está nessa relação. Em dezembro do ano passado, uma operação do Ministério Público atingiu nove parentes de Ana Cristina que estiveram lotados no gabinete do então deputado estadual Flávio Bolsonaro na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj).

A suspeita: prática de “rachadinha”. Dois fatos corroboram a desconfiança dos investigadores: os parentes sempre moraram em Resende, cidade localizada a mais de 160 quilômetros da capital fluminense,  mas assinavam o ponto como se estivessem cumprindo o expediente normal. Além disso, a quebra do sigilo bancário revelou uma curiosa coincidência: os familiares da ex de Bolsonaro sacavam praticamente todo o salário imediatamente após o pagamento. Para o MP, essa movimentação é indício de que o dinheiro era desviado e canalizado para o bolso de alguém.

Ana Cristina foi intimada a depor na próxima quinta-feira. O Ministério Público apura se a ex-mulher de Bolsonaro fazia parte ou se beneficiou do esquema de arrecadação de salários dos funcionários.  A advogada foi responsável pela indicação dos parentes, que, durante anos, se revezaram como assessores nos gabinetes de Flávio e de Carlos Bolsonaro.

As quebras do sigilo bancário da família revelaram que havia algo anormal. Andrea Siqueira Valle, irmã de Ana Cristina, chegou a sacar 98% de seus vencimentos enquanto trabalhou para Flávio, entre 2008 e 2017. Já José Cândido Procópio Valle, pai da advogada, sacou na boca do caixa 99% de tudo que recebeu como assessor do então deputado por três anos. Daniela Siqueira, prima da advogada,  foi a recordista no quesito volume em dinheiro vivo: sacou quase 800 000 reais da conta enquanto assessorava o filho do presidente, 96% do total recebido. O mesmo procedimento foi repetido por um tio e três tias, outra prima e um primo da ex-mulher do presidente. Dos 4,8 milhões de reais recebidos pela família Valle apenas no gabinete de Flávio Bolsonaro, 4 milhões de reais foram sacados na boca do caixa.

O presidente manteve uma união estável com Ana Cristina por dez anos, entre 1997 e 2007. Em 2008, eles se envolveram num tumultuado processo de separação judicial. No litígio, cujos detalhes foram revelados por VEJA em 2018, Ana Cristina acusou Bolsonaro de ocultar patrimônio e receber pagamentos não declarados. Segundo ela, o então deputado federal tinha uma “próspera condição financeira”, abastecida por uma renda mensal que chegava a 100 000 reais, em valores da época. Oficialmente, Bolsonaro recebia 26 700 reais como parlamentar e 8 600 reais como militar da reserva. Essa diferença, de acordo com Ana Cristina, vinha de “outros proventos”. Depois do embate, o casal chegou a um acordo financeiro. Mesmo após a separação, os parentes da advogada continuaram nos gabinetes de Flávio e de Carlos Bolsonaro. “Se o Ministério Público afirmar que eu recebo ou recebi rachadinha, vai ter de provar. Isso eu quero ver: provar”, disse a VEJA a ex-mulher do presidente.

É a partir desse ponto — as investigações da rachadinha — que as histórias de Ana Cristina, Fabrício Queiroz e Adriano da Nóbrega passam a convergir.

  Em dezembro do ano passado, segundo a Veja, “quando os investigadores cumpriam mandados de busca e apreensão na casa de seus parentes, ela enviou recados a pessoas próximas ao presidente solicitando ajuda.

O socorro, até onde se sabe, veio em forma de apoio jurídico. Criminalista e morador de Resende, o advogado Magnum Roberto Cardoso assumiu a defesa dos familiares da ex-mulher de Bolsonaro. Ele fez uma viagem a São Paulo, onde se reuniu num hotel com Frederick Wassef”, defensor de Flávio Bolsonaro até a semana passada.

O que exatamente foi tratado nesse encontro é mantido em segredo pelas duas partes. Procurado, Magnum Roberto não quis comentar. Wassef, por sua vez, desconversou e disse que não se recordava do episódio. Naquela época, ninguém sabia — ou quase ninguém —que o advogado de Flávio Bolsonaro mantinha Fabrício Queiroz escondido numa casa dele, em Atibaia, lugar onde o ex-policial foi preso duas semanas atrás. Os elos vão se juntando.

 Por Veja-Abril.com

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