Ação investiga caixa 2 de R$ 5 milhões na campanha do tucano ao Senado, em 2014. Policiais estiveram no gabinete e no apartamento do senador em Brasília
O senador José Serra (PSDB-SP) voltou a ser alvo de uma operação da Polícia Federal, deflagrada na manhã desta terça-feira – a terceira fase da Lava-Jato na Justiça Eleitoral de São Paulo. O empresário José Seripieri Filho, fundador da Qualicorp, que administra planos de saúde, foi preso temporariamente, acusado de repassar R$ 5 milhões à campanha de Serra ao Senado em 2014, por meio de caixa 2.
Segundo as investigações, Serra teria recebido o valor em doações eleitorais não informadas à Justiça Federal em três parcelas – uma de R$ 3 milhões e duas de R$ 1 milhão cada. Agentes da Polícia Federal fizeram buscas em endereços do senador em São Paulo e no apartamento funcional dele, em Brasília.
O presidente do Supremo Tribunal Federal, ministro Dias Toffoli, suspendeu o cumprimento do mandato de busca no gabinete do tucano no Senado. Ele argumentou que poderiam ser apreendidos no gabinete documentos que não são relacionados à operação
O senador José Serra lamentou a “espetacularização” das investigações e afirmou, em nota, que a nova operação foi abusiva e baseada em fatos até então desconhecidos por ele. Ressaltou que não foi ouvido e que jamais recebeu vantagens indevidas em seus 40 anos de vida pública.
Segundo o delegado Milton Fornazzari, responsável pela investigação, Seripieri teria montado uma estrutura societária e financeira exclusivamente para repassar dinheiro a campanhas eleitorais por meio de caixa 2.
Para dissimular os valores doados ilegalmente, teriam sido feitos falsos contratos de prestação de serviços e compras de produtos com empresas intermediárias. Essas firmas, de acordo com as apurações, é que repassavam valores, por meio de transferência bancária, a prestadores de serviços da campanha de Serra.
Além do empresário, foram presos temporariamente o publicitário Mino Mazzamati, do Titans Grupo, especializado em marketing digital, e Arthur Azevedo Filho, dono de uma gráfica. Mazzamati também prestou serviços para a campanha presidencial de Aécio Neves (PSDB). A quarta prisão é de Rosa Maria Garcia, que também estaria por trás de uma das empresas que atuaram nos repasses.
O esquema montado, segundo o delegado, configura associação criminosa, além de lavagem de dinheiro. Ainda está sendo apurado se houve crime de corrupção ativa e passiva.
— Não é crível que uma empresa faça doações milionárias simuladas. Há indicativo de que pode ter sido feita na expectativa de contrapartida das boas relações com o candidato – diz João Santa Terra, promotor do Ministério Público Eleitoral.
No total foram cumpridos 14 mandados de busca e apreensão em Brasília e São Paulo e nas cidades de Itatiba e Itu, no interior de São Paulo.
A Justiça Eleitoral determinou o bloqueio judicial de contas bancárias dos investigados, até o montante de R$ 5 milhões. O bloqueio incluiu contas do senador.
Segundo o MPE, apenas a investigação sobre a doação da Qualicorp para Serra foi encaminhada pelo Supremo Tribunal Federal para a Justiça Eleitoral paulista.
Seripieri sempre teve relações próximas com políticos. Em 2014, recebeu em seu casamento, em Bragança Paulista (SP) nomes como o então governador Geraldo Alckmin, José Serra e Gilberto Kassab, além da presidente Dilma Rousseff e do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. O empresário, conhecido como Júnior, também havia sido citado na delação do ex-ministro Antonio Palocci e acusado de ter repassado valores para um dos filhos do ex-presidente Lula
O inquérito policial foi enviado à Justiça Eleitoral em meados de 2019, com base na delação premiada de pessoas contratadas para estruturar e operacionalizar doações eleitorais não contabilizadas a mando do empresário. Segundo o MPE, além da Qualicorp, duas empresas – uma construtora e uma do setor de alimentos – teriam feito repasses às mesmas firmas intermediárias e estão sendo investigadas.
Segundo o MPE, a Operação Paralelo 23 foi deflagrada com base não apenas em delações, mas em informações obtidas com quebra de sigilo bancário e movimentações financeiras identificadas pelo Conselho de Controle de Atividades Financeiras (COAF).
Os repasses teriam sido feitos por meio de operações financeiras e societárias simuladas, uma tentativa de ocultar a origem do dinheiro. As investigações se restringem a fatos da eleição de 2014. Por estar no exercício de mandato no Senado, Serra tem direito a foro privilegiado.
Lava-Jato Eleitoral
No início do mês, a força-tarefa da Lava-Jato em São Paulo acusou formalmente Serra e a sua filha, Verônica, de lavagem de dinheiro e apresentou denúncia à Justiça contra eles. Paralelamente, a Polícia Federal deflagrou operações de busca e apreensão em endereços relacionados ao ex-governador de São Paulo. A casa do tucano foi um dos alvos. Em nota divulgada na época, o senador disse que a operação causou “estranheza e indignação”.
Agência O Globo