POPULARIDADE ALTA DE BOLSONARO ENCORAJA PAUTAS DE COSTUMES NO LEGISLATIVO

Protesto Pró Armas na Esplanada dos Ministérios – Pedro Ladeira – 9.jul.20/Folhapress

Base do governo costura acordos para votar projetos de armas, educação domiciliar e trânsito

Amparados pelo aumento da popularidade injetado pelo auxílio emergencial a informais, aliados do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) decidiram tentar emplacar, no Congresso, pautas que buscam agradar sua base eleitoral, como flexibilização do porte de armas e educação domiciliar.

Em conversas reservadas, o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), sinalizou que pode colocar os dois projetos em discussão, mas indicou esperar que eles sofram alterações.

Embora saibam que as propostas enfrentarão resistência da oposição e mesmo de legendas de centro, articuladores políticos do Planalto avaliam que o momento é ideal para tratar das matérias.

O diagnóstico é feito tanto pela popularidade do presidente como pelo fato de que pela primeira vez Bolsonaro tem uma base de apoio na Câmara, com deputados de partidos do chamado centrão, como PP, PL e Republicanos.

“A gente quer tocar homeschooling [educação domiciliar], armas e trânsito. É uma intenção, e estou construindo, consultando os líderes da base para avançar”, afirmou o deputado Ricardo Barros (PP-PR), nomeado líder do governo na Câmara há menos de um mês.

No ano passado, a primeira tentativa do governo de aprovar o texto das armas foi desidratada pelo Congresso, que autorizou a ampliação do porte e posse de armas apenas por colecionadores, atiradores e caçadores.

Em um acordo com o então líder do governo na Câmara, deputado Vitor Hugo (PSL-GO), Maia se comprometeu a colocar depois em votação a proposta para ampliar porte e posse para certas categorias de servidores públicos.

Neste ano, combinaram que o assunto voltaria à pauta quando a Câmara começasse a analisar propostas sem relação direta com a questão sanitária do coronavírus. Em julho, Vitor Hugo apresentou um requerimento de urgência.

“É preciso discutir o tema para fazer avançar a tese vitoriosa nas urnas, em 2018, com a eleição do presidente e pelo quadro caótico de segurança pública que a gente vive”, disse.

O texto de armas prevê que membros das Forças Armadas e das Polícias Federal, Rodoviária Federal, Civil, Militar e Legislativa, além do Corpo de Bombeiros, poderão comprar até dez armas de fogo de uso permitido ou restrito, assim como munição e outros equipamentos de proteção balística.

Caso comprovem necessidade e peçam autorização para o Comando do Exército, o limite a esses profissionais poderia ser ampliado.

O projeto inclui policiais penais e guardas municipais —independentemente do tamanho da cidade— nas exceções previstas na lei e que podem portar armas no país.

O rol também passa a contemplar peritos criminais, agentes socioeducativos e de trânsito, oficiais de Justiça, agentes de fiscalização ambiental, membros da Defensoria Pública e advogados públicos federais.

Ainda que os aliados do presidente vejam espaço para retomar a articulação para votar o projeto de armas, líderes partidários e representantes da bancada evangélica, que apoia Bolsonaro, ainda mantêm resistência ao tema. O receio, de novo, é que se amplie demais o acesso às armas.

Além disso, a pandemia é apontada como um dos fatores que atrapalham a tramitação do projeto.

“Acho que é uma inversão absoluta da noção de prioridade fazer qualquer acordo para pautar tema relacionado a armas neste momento, quando a prioridade do Brasil tem de ser cuidar da vida, da saúde e do emprego das pessoas. Terá toda minha resistência”, afirma o deputado Marcelo Ramos (PL-AM).

Apesar das dificuldades, o líder do governo no Congresso, o senador Eduardo Gomes (MDB-TO), insiste que há ambiente para a discussão de pautas que falem ao eleitorado bolsonarista.

“Leis e projetos de atendimento direto à Covid, essa demanda específica, que era única, vai diminuir, vai vir para pautas de recuperação econômica e outras coisas”, afirmou Gomes. “A diminuição da discussão só sobre Covid abre espaço para votação dessas outras pautas.”

Também polêmica, a pauta de educação domiciliar não agrada a oposição, mas tem chances de avançar sob o comando de Maia.

Segundo o presidente da Câmara disse a aliados, a quantidade de alunos que precisam estudar de casa em razão da pandemia evidenciou que é preciso discutir o assunto e que ele não seria restrito à pauta de costumes.

Já há requerimento de urgência para o projeto que regulamenta a proposta. Assim como no projeto das armas, a solicitação teve assinatura de líderes do chamado centrão, como Arthur Lira (AL), líder do PP, e Jhonatan de Jesus (RR), líder do Republicanos.

Folha de São Paulo

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