“AQUI QUALQUER COISA É IMPEACHMENT. DEIXA O CARA GOVERNAR, PÔ”, DIZ MOURÃO

O vice-presidente Hamilton Mourão Foto: AFP

O vice-presidente Hamilton Mourão, 67 anos, recuperado de covid-19,  não acha que o presidente Jair Bolsonaro terá o mesmo destino de Donald Trump, que, a poucos dias de deixar a Casa Branca, viu o segundo pedido de impeachment aprovado pela Câmara.

“Não vejo hoje que haja condição de prosperar qualquer pedido de impeachment contra o presidente Bolsonaro”, disse  Hamilton Mourão (PRTB), em entrevista feita na sexta-feira (15/1) ao jornal Estadão, publicada neste domingo (17/1). “Aqui no Brasil qualquer coisa é impeachment, né? Deixa o cara governar, pô!”

Apesar do colapso do sistema de saúde em Manaus e do atraso na vacinação, Mourão avaliou que a condução da crise “talvez” tenha pecado por falta de comunicação e criticou o governador de São Paulo, João Doria, que, para ele, acabou “metendo os pés pelas mãos” no caso da Coronavac.

Filiado ao PRTB, o general defendeu a aliança do Planalto com partidos carimbados por Bolsonaro como “velha política”, na campanha de 2018. “Não tem como fugir do Centrão”.

Como enfrentar a tragédia de Manaus, onde pacientes estão morrendo sem oxigênio?

Todo mundo dá pitaco sobre a Amazônia sem nunca ter pisado lá. Existem distâncias envolvidas enormes e uma desconexão com a área central do Brasil. Você só chega a Manaus de barco ou avião. Aí quando se fala em asfaltar a BR-319, porque é a única ligação terrestre de Manaus com o resto do País, (dizem) ‘Oh, céus, será a destruição da floresta’. Mas esquecem os milhões de pessoas que moram lá. Não tem UTI no interior do Amazonas.

O sr. já teve covid. Após a doença, em algum momento considerou que o governo possa ter errado na condução da pandemia?

O governo procurou trabalhar nas três grandes curvas: da saúde, da economia e a social. Fomos muito criticados, mas o tratamento precoce impede que a pessoa adquira sintomas mais graves e vá para o hospital, independentemente de discutir se é o remédio A, B ou C. Talvez (pudesse ter tido) uma comunicação mais eficiente. Todo mundo diz que tal lugar começou a vacinar. Mas quantos se vacinaram nesses locais? O único país que realmente está em uma fase final de vacinação é Israel. Mas qual é a população de Israel? Menor que a da capital de São Paulo.

O governador João Doria tem feito fortes críticas ao presidente e há uma corrida para ver quem vacina primeiro. O combate à pandemia virou propaganda para a eleição de 2022?

O governador Doria virou garoto-propaganda da vacina e acabou metendo os pés pelas mãos. Apareceu na TV para dizer que a vacina tinha um valor ‘x’ de eficácia, quando não era verdade. Em nenhum momento ele compareceu para se retratar. Isso não revela boa gestão.

A relação entre o sr. e o presidente tem altos e baixos. Ele disse que não quer mais o sr. na chapa, se disputar a reeleição?

Em nenhum momento ele abordou comigo esse assunto.

Qual é o seu plano político? Pretende concorrer ao Senado?

O plano é ir para casa. Por enquanto, não tem essa história de Senado.

Mas o sr. gostaria de ser candidato a vice novamente?

Se o presidente for concorrer à eleição e julgar que a minha presença junto com ele soma, eu estou pronto para participar desse processo.

O presidente da Câmara, Rodrigo Maia, articula um bloco de partidos para tentar derrotar o presidente. Quem será o maior adversário do governo?

Hoje eu não vejo adversário para o presidente Bolsonaro. O que é mais destacado como concorrente é o governador Doria, mas eu julgo que o presidente continua vencendo. Talvez o pior opositor para nós mesmos seja não conseguir realizar o que temos de realizar.

E Luciano Huck?

Acho que Luciano Huck é fogo de palha. Na hora H, sai fora.

Que projetos precisam ser aprovados pelo Congresso para ajudar a economia?

A PEC emergencial (proposta de emenda à Constituição para ajustar as contas públicas) tem de sair. Também é preciso levar adiante a reforma tributária. Precisamos adiantar essas pautas e acho que o Congresso será sensível a isso.

Há mais de 50 pedidos de impeachment contra Bolsonaro na Câmara. O sr. não teme que, diante dessa crise, ele sofra o mesmo processo que Donald Trump enfrenta nos EUA?

Não vejo hoje que haja condição de prosperar qualquer pedido de impeachment contra o presidente Bolsonaro, o mais atacado, ao longo dos últimos anos. Desde o dia anterior à posse o tiroteio já era grande em cima dele. Quantos pedidos de impeachment o Sarney, o Fernando Henrique, o Lula tiveram? Só a Dilma, coitada, é que não conseguiu sobreviver. E o Collor, obviamente. Aqui no Brasil qualquer coisa é impeachment, né? Deixa o cara governar, pô! Os pesos e contrapesos do nosso sistema democrático são mais do que suficientes para barrar qualquer tentativa de um governante de sair do leito da Constituição.

A aproximação cada vez maior do Planalto com o Centrão não contradiz o discurso de campanha, que era de combate à velha política e ao toma lá, dá cá?

Não vejo dessa forma. No começo, o governo buscou o relacionamento com o Congresso na base das bancadas temáticas. Mas as frentes parlamentares votam junto apenas para assuntos específicos. Aí chegou-se à conclusão que era necessário reunir um grupo de partidos que apoiassem as pautas principais do governo. E qualquer reunião de grupos de partido, no Congresso que temos hoje, passa pelo Centrão. Não tem como fugir do Centrão.

 Estadão Conteúdo

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