NA ÍNDIA, CAMPANHA DE VACINAÇÃO VÊ RESISTÊNCIA DE PROFISSIONAIS DE SAÚDE

Trabalhador da saúde recebe a vacina Covaxin, na Índia – Amit Dave -26.nov.2020/Reuters

Profissionais de saúde na Índia têm hesitado em receber as vacinas contra a Covid-19 aprovadas para uso humano pelo governo do primeiro-ministro Narendra Modi, mas cujos dados de eficácia são desconhecidos.

Vários cientistas e sanitaristas renomados se recusaram a tomar as doses, dizendo que a decisão imprudente de aprová-la sem contar com dados de eficácia reduziu a confiança nela.

No dia 16, a Índia lançou o maior programa de vacinação no mundo para imunizar 30 milhões de pessoas de alto risco, começando pelos profissionais de saúde, com duas vacinas: a Covishield, da Oxford-AstraZeneca, desenvolvida pelo Instituto Serum, e a Covaxin, da Bharat Biotech.

O fármaco de Oxford produzido na Índia, aliás, tornou-se motivo de cobiça internacional —o Brasil foi preterido inicialmente pelos indianos em detrimento de nações vizinhas do país asiático. Somente uma semana depois do previsto, na última sexta-feira (22), chegaram os 2 milhões de doses esperadas pelo governo Jair Bolsonaro.

Para incentivar a adesão, Modi convocou os diretores dos maiores institutos de saúde pública do país para receberem a injeção.

O Ministério da Saúde indiano compartilhou uma carta assinada por 49 “cientistas e médicos eminentes”, afirmando que “as duas vacinas contra a Covid-19 aprovadas pelo órgão regulador nacional são seguras”.

Mesmo com esses endossos, as autoridades não conseguiram esconder os receios compartilhados por médicos em todo o país com relação à eficácia.

Profissionais de saúde chegaram a ser ameaçados com cortes salariais pelas autoridades por se recusarem a receber a vacina.

Desde que o programa de vacinação começou, 1,61 milhão de pessoas já receberam a injeção —0,08% delas apresentaram reações adversas e 0,0007% foram hospitalizadas, de acordo com dados divulgados pelo Ministério da Saúde indiano.

Oito profissionais de saúde morreram depois de receber a vacina Covishield, mas, segundo o governo, as mortes não tiveram relação com a imunização.

O índice de cobertura vem sendo de 54 pessoas por sessão de vacinação —pouco mais que a metade do número de pessoas, cem, identificado pelo Ministério da Saúde como limiar apropriado.

A Associação de Médicos Residentes de Nova Déli informou, em carta enviada ao superintendente médico do hospital Ram Manohar Lohia, que seus membros não vão participar da vacinação porque estão “apreensivos devido à ausência de ensaios completos” da Covaxin.

As autoridades agora receiam que frascos contendo de 10 a 20 doses da vacina podem ser desperdiçados se não houver pessoas suficientes para serem vacinadas em até quatro horas após a abertura dos recipientes.

Pelo menos 52 doses já foram perdidas dessa maneira em Karnataka, estado do sul da Índia.

O governo aprovou o uso restrito da Covaxin no dia 3, citando dados de eficácia de ensaios não humanos, depois de descobrir que não havia tais informações disponíveis em testes com humanos.

“A empresa (Bharat Biotech) apresentou os dados de segurança e eficácia do estudo de desafio com primatas não humanos, que indicam que a vacina é segura e eficaz”, revelam os documentos oficiais.

Mesmo para aprovar a Covishield, da Oxford-AstraZeneca, as autoridades se pautaram pelos dados de eficácia de ensaios realizados no Brasil e no Reino Unido, já que os dados dos ensaios feitos na Índia ainda não são sabidos

A Índia é o segundo país mais atingido pela Covid, depois dos Estados Unidos.

Folhapress

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