Paciente de 90 anos recebe vacina da Oxford-AstraZeneca no Brasil – Foto: Bruno Kelly/Reuters
O Instituto Serum da Índia já comunicou aos governos do Brasil, Arábia Saudita e Marrocos sobre possíveis atrasos que novos abastecimentos de vacinas sofrerão nas próximas semanas.
A informação foi revelada pelo jornal Times of India. Procurado pela coluna, o instituto não desmentiu a informação. Mas disse que não faria qualquer tipo de comentário por enquanto. Já a Fiocruz indicou que recebeu uma comunicação oficial sobre o assunto no dia 4 de março.
Os indianos contam com a licença para a produção da vacina da Oxford/AstraZeneca e o fornecimento dessas doses ao Brasil foi alvo de uma intensa negociação ainda em janeiro. Naquele momento, o governo indiano acabou enviando doses primeiro a seus vizinhos, antes de fornecer a vacina para outros países.
De acordo com a agência Reuters, que também noticia neste domingo o atraso, o Brasil já recebeu cerca de 4 milhões de doses dos indianos, contra 7 milhões no caso do Marrocos. Juntos, os três países que poderão ser afetados encomendaram um total de 20 milhões de doses.
CARTA CITA INCÊNDIO E NOVOS COMPROMISSOS
No jornal indiano, um trecho de uma carta enviada para a Fiocruz revela o argumento usado pelo país asiático para justificar os problemas. O Instituto Serum explica que a entidade assinou “acordos adicionais com governos fora do escopo do acordo original de licenciamento com a AstraZeneca”. “Para atender a esses compromissos adicionais, começamos a expandir nossa capacidade de produção”, explicou.
“Lamentavelmente, um incêndio em um de nossos prédios causou obstáculos para a expansão de nossa produção mensal”, disse. O incêndio ocorreu em janeiro. Mas, naquele momento, o Serum garantiu que o incidente não afetaria nem sua produção e nem suas entregas globais.
O Instituto Serum afirma que está trabalhando para expandir sua capacidade de produção, no país que é o maior produtor de vacinas do mundo.
Procurada, a Fiocruz confirmou que recebeu a comunicação. Mas insiste que essa informação já havia sido divulgada há duas semanas, quando a entidade explicou que ainda não recebeu um cronograma por parte dos indianos sobre a data da entrega das novas vacinas.
Um atraso na importação das vacinas, porém, não afeta a previsão de produção da Fiocruz – estimada em 20 milhões de doses mensais a partir de abril – já que a fabricação depende de insumos chineses, e não do Instituto Serum.
Além dos compromissos internacionais, o governo Narendra Modi está sob forte crítica por estar vendendo ou doando mais doses de vacinas que o total distribuído domesticamente. O país é o terceiro em número de novos casos e mortes no mundo, superado pelo Brasil e EUA.
A informação do jornal Times of India é publicada poucos dias depois que o governo britânico indicou que poderia atrasar seu calendário de vacinação, também por conta de uma sinalização que recebeu dos indianos de que os prazos para o abastecimento teriam de ser modificados.
Por Jamil Chade/UOL