‘A CRIANÇA VAI FICAR PERTURBADA’: VEJA AS MENSAGENS DA BABÁ DE HENRY DURANTE SESSÃO DE TORTURA CONTRA O MENINO

A babá Thayna em foto com Henry: ela mandou uma selfie para a mãe do garoto após a suposta sessão de tortura por Dr. Jairinho em fevereiro Foto: Foto: Reprodução / Agência O Globo

Uma outra sessão de violência do médico e vereador Jairo Souza Santos Júnior, o Dr. Jairinho (sem partido), contra o menino Henry Borel Medeiros, foi narrada em tempo real pela babá Thayna de Oliveira Ferreira ao noivo. O episódio aconteceu na manhã de 2 de fevereiro e levou o delegado Henrique Damasceno, titular da 16ª DP (Barra da Tijuca), a indiciar o parlamentar por tortura mais uma vez. Nesta segunda-feira (3), o vereador e a mãe do menino, Monique Medeiros, foram indiciados por crime de homicídio duplamente qualificado contra Henry.

Nas mensagens enviadas pela funcionária, ela descreve que os dois ficaram trancados no quarto por cerca de meia hora. Da sala, ela ouvia a criança chorar e gritar “eu prometo” ao padrasto.

A conversa, obtida com exclusividade pelo GLOBO, foi recuperada no celular apreendido de Thayna no dia 8 de abril, e consta no inquérito que apura a morte de Henry. Ela mostra o diálogo entre o casal de 7h33 às 11h14. A jovem diz estar “apavorada” e, como futura psicóloga, “chocada” com o que presencia. “Família de doido real. A criança vai ficar perturbada”, ela escreve. A funcionária explica que Henry estava com ela no quarto, chorando e pedindo pela mãe. Jairinho então entra, diz que ele não pode chorar e que ele é “muito mimado”.

“O menino agarrou no meu pescoço, começou a chorar muito mesmo, que você vê que não é normal. Aí entrou com o menino no quarto dele. Fiquei sem saída, vou fazer o que né? Aí ele: me leva para minha tia, eu quero minha tia. Agora o menino tá chorando no quarto e eu na sala tipo, que coisa estranha sabe? Parece estar tampando a boca do menino, uma doideira de verdade”, escreve a babá ao noivo.

Ela continua: “Ai veio pra mim agora tomar café. Natural como se nada tivesse acontecido. Perdi até a fome. Confesso. Estou tremendo, sabia? Aí falou: Monique mima muito ele.” O rapaz então pergunta: “E o menino está aonde agora?” e ela responde: “No quarto, chorando e gritando: eu prometo. O psicológico dessa criança vai ficar f…. Sério. E não sei o que faz para melhorar”.

O noivo também questiona: “Ué, mas você está aí para ficar com a criança e ele coloca a criança no quarto e manda ficar na sala?”. A babá responde: “Isso. Olha a doideira. Falou pra mim: pode entrar a hora que quiser. Eu vou lá entrar. E da outra vez ele fez a mesma coisa”. Thayna também diz que irá contar à patroa sobre o que ouviu. “Eu vou conversar com a Monique quando voltar. Não vou dizer o que aconteceu porque vou me enfiar numa rabuda. Mas vou falar para ela evitar de deixar ele comigo e Jairinho porque Jairinho chama ele pra conversar”.

Mais adiante, o homem ainda escreve: “Acredito que ele não deve bater no menino, né? Não é possível que seja tão louco” e noiva responde: “Bater não, mas ele deve fazer ameaças psicológicas, o que é crime. Quanto mais com uma criança igual a um bebê”.

A troca de mensagens ocorreu dez dias antes de Thayna narrar a Monique, também em tempo real, outro episódio de violência no apartamento 203 do bloco I do Condomínio Majestic, no Cidade Jardim. Na ocasião, ela também presenciou Jairinho levando Henry para o quarto e o menino saindo do cômodo mancando, reclamando de dores na cabeça e com hematomas nos braços e nas pernas. O menino disse ter levado “chutes” e “bandas” do vereador. Em uma chamda de vídeo para a mãe, que estava no salão de beleza, ele disse que “o tio bateu” ou “o tio brigou” e pediu que ela fosse para casa. A professora retornou ao imóvel cerca de três horas depois. Essa conversa foi usada como fundamento para o pedido de prisão temporária do casal, que ocorreu em 8 de abril.

Polícia indicia casal pela morte de Henry

Nesta segunda-feira (3), o delegado Henrique Damasceno, titular da 16ª DP (Barra da Tijuca), concluiu o relatório do inquérito que apura a morte de Henry Borel Medeiros, de 4 anos. No documento, são indiciados a mãe do menino, a professora Monique Medeiros da Costa e Silva, e o namorado dela, o médico e vereador Jairo Souza Santos Júnior, o Dr. Jairinho (sem partido), pelo crime de homicídio duplamente qualificado, por emprego de tortura e impossibilidade de defesa do menino. O parlamentar também foi indiciado duas vezes por tortura, e a professora uma vez, por conta de outros episódios de violência praticados contra Henry — inclusive um relatado pela babá em tempo real à professora, durante a tarde de 12 de fevereiro.

Um pedido à Justiça de conversão da prisão temporária do casal em preventiva também foi feito. Os dois já encontram-se atrás das grades desde o dia 8 de abril, sob acusação de tentar atrapalhar as investigações. O relatório está sendo encaminhado ao promotor Marcos Kac, do Ministério Público do Rio, que deverá oferecer eventual denúncia à juíza Elizabeth Louro Machado, titular do II Tribunal do Júri, nos próximos dias.

O Globo

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