CPI AO VIVO: APÓS DEPOIMENTO TENSO E COM CONTRADIÇÕES, RENAN DEFENDE PRISÃO DE WAJNGARTEN, MAS OMAR AZIZ NEGA

Foto: Sérgio Lima

O relator da CPI da Covid, Renan Calheiros (MDB-AL), defendeu na tarde desta quarta-feira a prisão do ex-secretário de Comunicação Social (Secom) Fabio Wajngarten, após um depoimento com contradições à comissão. Segundo Renan, Wajngarten mentiu na sessão da comissão sobre a campanha publicitária do governo “O Brasil não pode parar” e se contradisse em relação à entrevista à revista Veja. O presidente do colegiado, Omar Aziz (PSD-AM), no entanto, não endossou o posicionamento, e Renan acrescentou que, “por respeito” ao presidente da CPI, não levaria adiante a decisão de pedir que uma ordem de prisão em flagrante fosse expedida.

— Está aqui uma postagem da Secom sobre a campanha “O Brasil não pode parar”. O senhor (Wajngarten), mais uma vez, mente — disse Renan, acrescentando: — Vou pedir a prisão de Vossa Senhoria.

Aziz atuou para esfriar os ânimos e ponderou que não seria o caso de mandar prender o ex-titular da Secom:

— Vocês não vão diminuir a CPI. Não é porque uma pessoa vem aqui e desde a manhã se contradiz a toda hora é que nós vamos acabar com a CPI, diminuir a CPI, não vou aceitar —- afirmou Aziz.

E acrescentou:

— Eu não sou carcereiro de ninguém. Eu sou um democrata. Se ele mentiu, temos como pedir o indiciamento dele, para o Ministério Público, para ser preso. Mas não por mim.

Segundo Aziz, a CPI não pode ser vista como um tribunal “que está ouvindo e já condenando” testemunhas.

— Não é impondo a prisão de alguém que a CPI não vai dar resultado. A CPI teve hoje uma informação que não tínhamos, que metade do governo sabia desde setembro que a Pfizer estava oferecendo vacina para a gente. Talvez tenha sido a informação mais importante de toda a CPI — avaliou o presidente da CPI

Campanha “O Brasil não pode parar”

Wajngarten, em um primeiro momento, tentou se esquivar da responsabilidade pela campanha “O Brasil não pode parar”, de março do ano passado, que conclamava a população a seguir com suas atividades, enquanto governadores e prefeitos tentavam restringir a circulação.

— Contudo, de fato, eu me recordo de um vídeo circulando, “O Brasil não pode parar”, eu não tenho certeza se ele é de autoria, de assinatura da Secom. Eu não sei se ele foi feito dentro da estrutura ou por algum… E circulou de forma orgânica. Eu não tenho essa certeza, posso confirmar para o senhor — disse o ex-chefe da Secom.

Em outro momento, Wajngarten afirmou que nem todas as propagandas produzidas pela secretaria passavam por sua aprovação e lembrou que, em março de 2020, chegou a ficar afastado por ter contraído coronavírus. A campanha citada pelos senadores foi veiculada nas redes sociais e retirada do ar em seguida — Wajngarten argumentou que a campanha não estava na lista de controle que registrava as propagandas sobre a pandemia, também apresentada por ele à CPI.

Mais tarde, depois de um breve intervalo na sessão, o ex-secretário de Comunicação afirmou que a veiculação na conta oficial da Secom ocorreu de maneira inadvertida:

— Essa foi uma campanha… Conforme o colega senador falou, ela estava em fase de teste, e o próprio ministro, superior, meu chefe, à época, da pasta, rodou essa campanha sem a aprovação. Em nenhum momento essa campanha teve autorização de veiculação. Em nenhum momento. De fato, as peças foram concebidas, de fato nenhum momento. De fato, as peças foram concebidas. De fato, as peças estavam em fase de avaliação, conforme o comentário do colega senador. Em nenhum momento, ela foi autorizada e acho que até comentaram aqui que ela foi objeto de disputa judicial e circulou no grupo do Whatsapp de ministros. Eu nem sabia dessa veiculação, por isso eu peço perdão de não ter me recordado… — acrescentou Wajngarten, lembrando em uma resposta posterior que a Secom, à época, estava subordinada ao ministro Luiz Eduardo Ramos, então na Secretaria de Governo.

Renan: Wajngarten “mentiu”

Mais cedo, a sessão precisou ser suspensa por cinco minutos após o relator da comissão chamar Wajngarten de mentiroso. Na ocasião, o relator já havia citado a hipótese de prisão em flagrante:

— Se mentiu à Veja e a esta comissão, vou requerer a forma da legislação procesusal a prisão do depoente — disse Calheiros. — Vossa Excelência exagerou na mentira. Hoje, aqui no depoimento. Vossa senhoria citou uma fala da campanha com Otávio Mesquita como modelo de esclarecimento. Mas mentiu para a CPI, porque falava para o Brasil… — disse Calheiros, pouco antes de ser interrompido por outros senadores e a sessão ser suspensa.

A sessão da CPI da Covid no Senado chegou a ser suspensa por cinco minutos após o relator da comissão, o senador Renan Calheiros (MDB-AL), chamar o ex-secretário de Comunicação Social Fabio Wajngarten de mentiroso. Calheiros disse que poderia pedir a prisão do depoente

O senador governista Marcos Rogerio (DEM-RO) reclamou da ameaça de prisão e disse que configurava “abuso de autoridade”.  que ela só seria possível em flagrante.

Wajngarten tentou tangenciar as perguntas feitas sobre a entrevista, provocando a reação de Calheiros e do presidente da CPI, Omar Aziz (PSD-AM). Eles reclamaram que o ex-secretário estaria mentindo.

— Está tangenciando as perguntas. Depois a gente toma uma medida mais radical, e aí vão dizer que somos isso e aquilo. Por favor, não menospreze a nossa inteligência. Ninguém é imbecil aqui. O senhor está mentindo aqui para todos nós. Chamou Pazuello de incompetente? — questinou Aziz.

— A revista não diz isso e eu não chamei. Basta ler a revista — respondeu Wanjgarten.

— O senhor está advertido — disse Calheiros.

— Está confiando em que lá na frente? Tem consequências futuras. Processo não acaba amanhã. A gente se sente meio protegido quando tem o poder por trás da gente. Depois que não tem poder, ficar abandonado. Dou um conselho: seja objetivo e verdadeiro — devolveu Aziz.

O presidente da CPI lembrou que Wajngarten só foi chamado à CPI por causa da entrevista que deu à “Veja”, publicada no mês passado. Na época, ao ser questionado por que a negociação com a Pfizer não foi em frente, ele disse que foi por “incompetência e ineficiência”. Perguntado então se estava se referindo a Pazuello, ele disse que se referia à “equipe que gerenciava o Ministério da Saúde nesse período”. Também eximiu Bolsonaro de responsabilidade e disse que “ele era abastecido com informações erradas, não sei se por dolo, incompetência ou as duas coisas”.

O Globo

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