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A menina de 3 anos que ficou pelo menos 40 dias sem comer já ganhou 2 quilos desde que foi resgatada, na sexta (2), em Rio Claro (SP). Ela é acompanhada por pelo menos 5 profissionais de saúde na Santa Casa e não corre risco de vida, segundo a médica pediatra Sâmila Batelochi Gallo.
Ela chegou ao hospital com 8 quilos, mas a média ideal para a idade é de 15 quilos. “A gente não sabe como ela resistiu a isso. Eu imagino o quanto ela sofreu nesses 40 dias de fome. Eu nunca vi na minha profissão. Mais alguns dias ela já entraria em óbito”, disse Sâmila.
O pai da menina, que também estava desnutrido e chegou a ser preso por maus-tratos, foi solto. O Ministério Público pediu a prisão dele por tentativa de homicídio.
Condições após o resgate
Segundo Sâmila, a menina ficou um dia na Unidade de Terapia Intensiva e depois foi para a enfermaria da pediatria. “[Chegou em estado] muito crítico. Extremamente desnutrida, desidratada”, disse a pediatra.
A criança estava nas seguintes condições:
- Desnutrida e desidratada
- Ossos aparentes
- Sem massa muscular
- Excesso de pele
- planta dos pés e das mão brancas, que indica falta de vitaminas.
- Mãos geladas por conta da hipotermia
- Fraqueza
Ainda segundo a médica a menina tinha dificuldade para ficar sentada. “Abria os olhos, mas não tinha essa atividade que a gente espera de uma criança de 3 anos”, disse.
Ainda de acordo com a pediatra a alimentação tem que voltar aos poucos para não causar alterações metabólicas.
“Começamos com 60 calorias por dia. Ela começou a já alimentar por boca nesse instante, mas a gente pegou uma dieta bem pastosa, sem lactose, grande quantidade de proteínas. De 1 a 2 gramas de proteína por quilo por dia. E soro isotônico para tentar repor tudo isso”, explicou.
São feitos exames diários e, além da pediatra, a menina é acompanhada por psicóloga, fonoaudióloga, nutricionista e fisioterapia para a parte motora.
“Ela chegou com 8 quilos e está com 10 quilos, ganhou 2 quilos. A gente vê que ela já tem uma bochechinha, ela já senta e está começando a caminhar. Falar ainda nada. A gente não sabe se ela já não falava anteriormente, mas ela só dá umas balbuciadas, a gente não entende o que ela fala”..
MP vê tentativa de homicídio
A promotoria de Justiça do Ministério Público de Rio Claro (SP) entrou com recurso contra a decisão que concedeu liberdade provisória ao homem preso em flagrante por ter mantido a filha de 3 anos sem alimentação durante 40 dias.
Para o promotor Cássio Sartori, o pai deve ser preso preventivamente. De acordo com a promotoria, trata-se de uma tentativa de homicídio, pois o pai tinha o dever de alimentar a filha e, consequentemente, evitar o resultado morte.
O pai de 36 anos foi solto após passar por audiência de custódia no sábado (3). O nome dele não foi divulgado, por isso o g1 não conseguiu localizar a defesa.
No recurso, Sartori cita ações em tramitação na Vara de Família apontando que o pai impedia aproximações entre a menina e a avó materna.
Segundo a promotoria, a avó procurava com frequência o pai da menina para ajudar financeiramente e com alimentos. Oficiais de Justiça já haviam tentado entrar no apartamento anteriormente, mas foram impedidos pelo pai.
Ainda segundo o promotor, inventário de bens deixados pela mãe do suspeito aponta que ele tinha bens e recursos financeiros para alimentar a filha.
O caso é investigado pelo 3º Distrito Policial (DP) de Rio Claro, que está aguardando os laudos para dar continuidade ao inquérito.
O caso
A menina foi encontrada em estado de desnutrição na sexta-feira (2) em um condomínio no Jardim Portugal.
A oficial de Justiça que participou do resgate disse nunca ter visto nada parecido em seus 29 anos de profissão.
Os agentes de justiça e segurança foram até a casa do pai da menina, após a avó materna não conseguir mais contato com o pai para visitar a menina.
A mãe da criança morreu pouco tempo após o parto e a guarda ficou com o pai, mas a avó tinha permissão para visitá-la.
Sem conseguir contato com o pai, a avó entrou com uma ação e Justiça expediu um mandado para a visita.
Os oficiais de Justiça tentaram a primeira visita na quinta (1º), mas o homem não permitiu a entrada. Eles então retornam no dia seguinte com a Guarda Civil Municipal (GCM) e o Conselho Tutelar, quando entraram no apartamento e encontraram a menina desnutrida.