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Cientistas da Universidade da Flórida, nos Estados Unidos, descobriram que o papel higiênico é “uma fonte inesperada” de PFAS (família de substâncias perfluoroalquiladas que inclui milhares de compostos químicos, alguns deles potencialmente cancerígenos) em águas residuais.
Segundo o artigo, publicado nesta semana na revista Environmental Science & Technology Letters, da Associação Americana de Química, as PFAS são usadas por alguns fabricantes de papel higiênico ao converter madeira em celulose e podem acabar contaminando o produto final.
Eles acrescentam que o papel higiênico feito de material reciclável também corre o risco de ser feito com fibras de outro material que contenha PFAS.
O objetivo do estudo foi identificar se o papel higiênico jogado no vaso sanitário era responsável por despejar PFAS nas águas residuais.
Para isso, os autores do estudo reuniram rolos de papel higiênico vendidos em nove países — EUA, Chile, França, Reino Unido, Holanda, África do Sul, Costa Rica, El Salvador e Uruguai.
Eles também coletaram amostras de esgoto de estações de tratamento nos EUA.
Posteriormente, extraíram as PFAS dos papéis higiênicos e do esgoto, para compará-las.
As PFAS primárias identificadas foram os polifluoroalquil fosfatos dissubstituídos (diPAPs), que, segundo os autores, “podem se converter em PFAS mais estáveis, como o ácido perfluoro-octanoico, que é potencialmente cancerígeno”.
O diPAP 6:2 foi o mais abundante em ambas as amostras, mas a concentração dele estava em níveis baixos.
O grupo de cientistas fez outro experimento em que considerou as medições do nível de PFAS no esgoto e o uso per capita de papel higiênico em vários países — EUA, Canadá, China, Austrália, França e Suécia.
Nos EUA e no Canadá, o papel higiênico representava cerca de 4% de todo o diPAP 6:2 encontrado nas águas residuais, patamar que subiu para 35% na Suécia e 89% na França.
Os pesquisadores consideram que a maior parte do diPAP 6:2 dos EUA entra no esgoto a partir de cosméticos, produtos têxteis e embalagens de alimentos, por exemplo.
A Agência de Proteção Ambiental dos Estados Unidos ressalta que a maioria das pessoas já foi exposta a algumas PFAS, mas que os riscos existem quando há grandes concentrações e por muito tempo. Alguns desses compostos também podem se acumular no organismo.
O órgão lista achados de estudos científicos sérios que mostraram que a exposição a certos níveis de PFAS pode levar a problemas reprodutivos, como diminuição da fertilidade ou aumento da pressão arterial em gestantes; e atraso no desenvolvimento de crianças, incluindo baixo peso ao nascer, puberdade acelerada, variações ósseas ou alterações comportamentais.
Também cita o aumento do risco de alguns tipos de câncer, incluindo os de próstata, rins e testículos; e a redução da capacidade de o sistema imunológico combater infecções; além de interferências em hormônios naturais do corpo e aumento dos níveis de colesterol e/ou risco de obesidade.
A principal dificuldade, já que existem mais de 4.000 PFAS, é determinar quais são as mais prejudiciais.
“Existem milhares de PFAS com efeitos e níveis de toxicidade potencialmente variados, mas a maioria dos estudos se concentra em um número limitado de compostos PFAS mais conhecidos”, acrescenta a agência americana.
A Agência Europeia de Substâncias Químicas destaca que as PFAS são feitas de ligações carbono-flúor, “uma das mais fortes na química orgânica”.
Com base nisso, são compostos que resistem por muito tempo no ambiente.
R7