Foto: Reprodução/Metrópoles
O ronco nervoso do motor V8 sinaliza a aproximação dos superesportivos. Um grupo de jovens endinheirados aguarda entre goles de energético e tragadas em cigarros eletrônicos.
A “esticada” da BMW M2 ecoa e deixa marcas emborrachadas no asfalto ao redor do ponto de encontro, um posto de gasolina no Setor de Mansões Dom Bosco (SMDB), na subida da QI 23, Lago Sul, região em que a média de patrimônio concentrado pelos moradores é de R$ 1,4 milhão.
Além de centenas de cavalos de potência sob o capô, ostentação, poder e muito dinheiro são pré-requisitos para se destacar no “racha de milhões”. Em uma apuração exclusiva, a coluna Na Mira mergulhou no mundo das corridas organizadas clandestinamente por motoristas aficionados pelo perigo de desafiar a lei, sempre em busca de popularidade e afirmação.
Racha de Milhões: playboys com carros de luxo desafiam a leihttps://t.co/ldSGBNvy0Y pic.twitter.com/5Y77y0rhff
— Daltro Emerenciano Instagram @blogdedaltroemerenci (@BlogdeDaltro) August 26, 2024
Nesta série, a coluna revela a participação de autoridades, médicos, advogados e até oficiais da Polícia Militar (PMDF) nas competições ilegais.
É noite de quarta-feira e boa parte dos moradores locais já está em casa. No entanto, o movimento no posto é intenso e barulhento. O estacionamento em frente às lanchonetes fica lotado de carros rápidos e caros. É um desfile de diferentes modelos das montadoras alemãs BMW, Audi e Porsche. Possantes da sueca Volvo e da britânica Mini (de propriedade da BMW) também participam do encontro que precede as “puxadas” — como os corredores se referem às disputas.
Máquinas preparadas
Quanto mais caro, veloz e preparado o carro, mais atenção ele ganha dos jovens que integram o grupo. De moletom, chinelos e bermuda, os corredores aparentam ter entre 19 e 23 anos.
A bordo de máquinas superesportivas que ultrapassam R$ 600 mil — como é o caso de duas BMW M2 —, os garotos passam parte da noite comentando sobre as modificações mecânica e aerodinâmica dos carrões. Alguns dos modelos usados nos rachas sofreram alterações nos escapamentos, nos filtros, na suspensão, nas rodas e nos pistões.
O rosto quase juvenil dos racheiros denuncia o teor dos papos envolvendo as transgressões de trânsito e o valor de multas acumuladas. “Se minha mãe souber, ela me mata”, chegou a comentar um garoto que costuma posicionar a BMW na linha dos rachas.
De médico a PM
Além dos universitários abastados que moram no Lago Sul, outros motoristas viciados em disputar as corridas clandestinas integram o grupo de racheiros. Mais velhos e com carros ainda mais potentes, médicos, advogados, empresários e até um tenente da Polícia Militar do Distrito Federal também aceleram nas competições ilegais.
Quando o relógio passa das 23h, os racheiros se organizam e partem em comboio para o local dos pegas. Na noite da última quarta (21/8), pelo menos duas BMWs M2, além de outras duas modelos coupé, deixaram o posto.
A reportagem seguiu o comboio até um trecho completamente sem iluminação e com o mato alto nos acostamentos, na DF-001, na estrada da Papuda. Todos os carros foram estacionados ao longo da rodovia, ainda muito movimentada pelo tráfego de caminhões e carros de passeio.
Informações: Metrópoles