Foto: Michael Dantas/AFP
A seca deste ano é a mais extensa já registrada no Brasil, a mais intensa em partes da Amazônia e deve superar em severidade a do Pantanal em 2021, até agora a mais extrema desse bioma.
O número de focos de incêndio entre janeiro e segunda-feira chegou a 164.543, segundo o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe). Foi o maior para este período desde 2010 e o quinto desde o início da série histórica, em 1998 — o pior ano foi 2007, com 184.010 focos.
A gravidade e extensão do fenômeno foram detalhadas em uma nota técnica do Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden). A nota lembra que ele começou no segundo semestre de 2023. Segundo o Cemaden, estão sob algum grau de seca 5 milhões de km², ou 59% do país.
O climatologista da USP Tercio Ambrizzi diz que as secas extremas devem se tornar mais frequentes, em especial no Norte e no Nordeste, segundo todos os modelos climatológicos. Para Ambrizzi, 2025 deve manter a tendência, mesmo com uma La Niña (associada a períodos frios) em formação.
A estação chuvosa já está atrasada na América do Sul, o que era previsão virou fato. E, ao menos para esta e as próximas duas semanas, a previsão é que a seca e o calor continuarão a castigar com intensidade a maior parte do Brasil, com elevado risco de incêndios, informa o Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden).
Todas as principais bacias hidrográficas seguem com previsão de vazão abaixo da média para os próximos três meses. Os mapas de previsão retratam praticamente o Brasil inteiro seco, sem um pingo d’água, até o dia 23 de setembro.
A partir disso, a previsão ainda tem maior margem de incerteza, mas é quase certo que a chuva não virá antes do início de outubro para quase todo o país, à exceção do Rio Grande do Sul e de partes do extremo norte da Amazônia, afirma o meteorologista Marcelo Seluchi, coordenador de operações do Cemaden.
Chuvas atrasadas
A estação chuvosa já está atrasada, diz Marcelo Seluchi. O Oceano Atlântico está mais quente na região da América Central e isso tem concentrado a umidade e chove muito por lá. Em consequência, as chuvas não chegam no Norte da Amazônia e é por lá que começa a toda a estação chuvosa.
A chuva começa no extremo Noroeste da América do Sul e segue para o Sudeste do continente. Tem uma sequência. Já deveria estar chovendo agora na Venezuela e na Colômbia e não está.
Seca prolongada
Os meteorologistas não conseguem ver o fim da seca em setembro. Esta semana segue quente e sem chuva, a seguinte deve ser igual, segundo o Cemaden. A que começa no dia 23, a quarta, segundo a maioria dos modelos de previsão climática, segue sem chuva. E há risco de os primeiros dias de outubro também serem secos.
A esperança
A esperança dos especialistas é que a estação chuvosa seja boa. Seluchi enfatiza que não existe relação entre o momento de início e a qualidade da estação chuvosa. Já houve anos em que ela começou cedo e não foi boa, a exemplo de 2023. Pode começar adiantada e ser péssima. E iniciar com atraso e ser boa. A recuperação depende também da distribuição das chuvas. Principalmente a da agricultura, que precisa de chuvas regulares.
Anomalias
Seluchi destaca que mesmo onde é prevista chuva — norte da Amazônia e parte da Região Sul — ela será abaixo da média histórica. E a chuva que virá será não apenas fraca, mas longe de onde é mais necessária. Na Bolívia, que arde e exporta fogo e fumaça de queimadas para o Brasil, também não há previsão de chuva. O Rio Grande do Sul e o Norte da Argentina estão pegando em cheio as queimadas na Bolívia.
Secura máxima
Na estação seca, as frentes frias são a fonte das chuvas para boa parte do país, explica Tércio Ambrizzi, coordenador do INCLINE (INter-disciplinary CLimate INvestigation cEnter) Núcleo de Apoio a Pesquisa em Mudanças Climáticas da Universidade de São Paulo (USP).
Ele frisa que este ano as frentes têm sido mais oceânicas e quase sempre fracas. Em partes do Sudeste e em todo o Centro-Oeste isso tem efeito devastador, pois não há nem a umidade da Amazônia. O interior do país não está recebendo nada. Isso significa que não tem umidade chegando, diz Seluchi.
Com informações do O Globo