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Uma falha na limpeza e esterilização no ambiente onde foi realizado o mutirão de cirurgias de catarata que resultou na infecção de 15 pacientes em Parelhas, a 245 km de Natal, é dada como certa pelo Ministério Público do Rio Grande do Norte, que abriu um inquérito sobre o caso.
A declaração foi feita nesta sexta-feira (18) pela promotora de justiça substituta no município, Ana Jovina de Oliveira Ferreira. De acordo com ela, no entanto, ainda não é possível dizer se a falha foi na esterilização de um equipamento específico, ou, por exemplo, na paramentação de um dos profissionais envolvidos.
“O que já se desenha nessa coleta inicial é que de fato houve uma falha na higienização e esterilização do ambiente cirúrgico. Não se pode ainda afirmar com a máxima precisão qual instrumento, ou se foi falha de origem humana no trato da paramentação, ou se nos instrumentos, mas obviamente sagra-se como evidência que houve, sim, falha na esterilização do ambiente cirúrgico”, afirmou.
A promotora Rosane Moreno, do Centro de Apoio Operacional das Promotorias de Justiça (Caop) do Ministério Público para a área da Saúde, afirmou que “houve algumas falhas” e que o órgão recebeu nesta quinta-feira (17) parte da documentação, como os termos da inspeção da Vigilância Sanitária.
“A gente precisa fazer essa análise técnica para entender qual foi a falha que ocorreu, para tentar direcionar os próximos encaminhamentos. No ambiente hospitalar, a gente sabe que, além do ambiente, tem todo um instrumental que é utilizado nessas cirurgias, existe todo o protocolo que tem que ser cumprido, a esterilização de todo esse instrumental antes das cirurgias, saber como é que foi feita essa esterilização, como foi feita no decorrer, porque foram várias cirurgias, qual é o protocolo utillizado neste momento e qual falha ocorreu. Porque alguma falha ocorreu, se não a gente não teria esse resultado trágico” pontuou.
As cirurgias aconteceram nos dias 27 e 28 de setembro na Maternidade Dr. Graciliano Lordão, em Parelhas. Porém as infecções ocorreram apenas com pacientes do primeiro dia. Dos 20 pacientes operados na sexta-feira (27), 15 tiveram uma endoftalmite – infecção ocular causada pela bactéria Enterobacter cloacae. 9 deles perderam o globo ocular.
De acordo com a promotora, mesmo que a investigação ainda esteja em andamento, é possível dizer que o município tem responsabilidade civil objetiva e por isso deverá idenizar os pacientes.
“A gente está falando de um dano irreparável. No âmbito da responsabilidade civil do estado, a nossa constituição e ordenamento jurídico nos dá uma grande segurança para buscar uma indenização proporcional ao tão grave dano experimentado por essas vítimas”, afirmou.
O Ministério Público confirmou que o órgão ainda investiga o mutirão sobre outro aspecto: os promotores buscam saber se houve crime eleitoral, já que as cirurgias foram realizadas 10 dias antes das eleições municipais.
9 pacientes perderam o globo ocular
Nesta quinta-feira (17), a prefeitura de Parelhas confirmou que subiu para nove o número de pacientes que perderam o globo ocular após serem infectados por uma bactéria em um mutirão de cirurgias de catarata. Até então, eram oito pacientes nessa situação.
Segundo a prefeitura, dos 15 pacientes que tiveram complicações após as cirurgias de catarata, outros 4 fizeram cirurgia de vitrectomia, e 2 estão em casa sendo acompanhados “com boa evolução do quadro, com mais de 80% do quadro infeccioso já solucionado, mas ainda não conseguem enxergar”.
Segundo o Município, os pacientes infectados são 8 homens e 7 mulheres, com faixa etária entre 43 a 80 anos.
A prefeitura também informou que realizou uma reunião com pacientes, nesta quinta (17), falou “sobre a aquisição de próteses oculares e se colocou à disposição dos advogados das famílias presentes na reunião para seguir com a referida indenização”.
Diretor de maternidade questiona limpeza de material
Diretor da maternidade onde ocorreu um mutirão de cirurgias de catarata, Manoel Marques Bezerra Neto afirmou que não sabe como a empresa contratada para realizar as operações fez a limpeza dos equipamentos antes do primeiro dia.
De acordo com ele, as cirurgias foram realizadas no local por uma empresa contratada pela prefeitura municipal, e a maternidade apenas cedeu o espaço do centro cirúrgico. Ele ressaltou que não era responsabilidade da maternidade a limpeza e esterilização dos equipamentos, nem a cessão de equipamentos ou de pessoal para as cirurgias.
“Nós tivemos informações, inclusive constam em autos, que a empresa responsável pelo mutirão trouxe esse material até a maternidade, no primeiro dia, e, chegando aqui, solicitou a um funcionário do hospital municipal [anexo à maternidade] que fosse colocado na autoclave [equipamento usado para esterilização]. Assim foi feito”, disse.
Vigilância Sanitária investiga o que provocou a infecção em pacientes que participaram de cirurgias de catarata no interior do RN
Empresa diz que equipamentos foram lavados
A empresa Oculare Oftalmologia Avançada, responsável pelas cirurgias, afirmou em nota que o mutirão foi conduzido por “oftalmologista experiente, tendo seguido os protocolos médicos e de segurança exigidos”.
Ainda no comunicado, a empresa disse que realizou o mutirão na maternidade por indicação do município, “utilizando-se de sua estrutura para tanto (sala cirúrgica, cubas, iodo, sala de esterilização, autoclave e panos estéreis das mesas de operação)”.
“Sobre os materiais utilizados durante as cirurgias, destacamos que os instrumentos foram lavados e entregues à equipe técnica da Maternidade Graciliano Lordão para a devida esterilização em autoclave. Após o processo de esterilização, os instrumentos foram encaminhados para a sala cirúrgica e organizados para início das atividades”, informou por meio de nota.
No entanto a empresa não informou onde os materiais foram lavados. A empresa ressaltou que não possuía registros de infecções em cirurgias realizadas. “O oftalmologista responsável pelas cirurgias em Parelhas/RN possui em seu histórico mais de 2.000 cirurgias realizadas com sucesso e satisfação, lamentando o ocorrido (em investigação)”.
g1/RN