Foto: Breno Esaki/Metrópoles
A ministra da Saúde, Nísia Trindade, afirmou nesta quarta-feira que a “fritura” que antecedeu a saída do cargo é “inconcebível”. Segundo ela, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou que era necessária uma “mudança de perfil” na pasta.
— Ele (Lula) disse que achava importante uma mudança de perfil na Saúde, me agradecendo pelo trabalho realizado. O presidente entende que dimensões técnico e politicas são importantes. Disse a ele que ele é técnico de um time. Faz parte da vivência de qualquer governo a substituição de ministros. isso nada depõe em relação ao meu trabalho — disse Nísia na porta do Ministério da Saúde.
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Nísia foi questionada em seguida se ficou incomodada com a forma como a demissão aconteceu, já que a saída era dada como certa muito antes de ela ter sido comunicada pelo presidente.
— Eu estou me referindo ao processo chamado por vocês mesmos de fritura na imprensa. Isso é inconcebível, não deveria acontecer. Simplesmente deveria se apurar os fatos e não antecipar decisões que cabem ao presidente— disse Nísia.
Ela será substituída no cargo pelo ministro das Relações Institucionais, Alexandre Padilha. Com a popularidade em queda, Lula decidiu escalar na Saúde um nome com mais experiência política, o que, na visão do Planalto, poderá impulsionar programas como o Mais Acesso a Especialistas, que busca ampliar acesso a consultas e exames. Lula avalia que essa iniciativa pode funcionar como uma marca da gestão.
Desgastes em série até a saída
A demissão de Nísia Trindade do cargo de ministra da Saúde aconteceu após sucessivos episódios de desgaste envolvendo a então titular da pasta.
Entre os pontos que fizeram a cientista social ser alvo de críticas estão a dificuldade de articulação política, a demora em tirar do papel o Programa Mais Acesso a Especialistas (PMAE), a epidemia de dengue, a gestão dos hospitais federais do Rio e o desperdício de vacinas.
Lula vinha reclamando com aliados da demora da pasta em gerar ações que pudessem ser usadas pelo governo como exemplos de impacto positivo na população — o presidente chegou ao seu índice mais baixo de popularidade nos três mandatos, como mostrou o Datafolha. A principal queixa era direcionada ao programa Mais Acesso a Especialistas, que tem como meta ampliar a oferta de consultas, exames e cirurgias na rede pública.
Nísia foi cobrada pelo presidente em mais de uma ocasião diante do avanço a passos lentos da iniciativa. O programa alcançou 99% dos municípios do país atendidos só em fevereiro, dez meses após ter sido lançado.
Articulação política
Nísia foi pressionada em diferentes momentos pela classe política, principalmente pelo Centrão para liberação de verbas. Congressistas reclamavam que não eram recebidos com frequência e relatavam dificuldades para conseguir recursos para as bases. A agora ex-ministra fez mudanças na equipe e buscou abrir mais a agenda para deputados e senadores, incluindo viagens. O movimento arrefeceu as críticas, mas não conseguiu aliviar totalmente a pressão.
O Globo