Frei Gilson — Foto: Bruno Marques/Canção Nova
Nas últimas horas da madrugada, enquanto boa parte dos brasileiros ainda dorme, o líder católico Frei Gilson e sua equipe já estão na frente das câmeras, à espera do grupo de fiéis que começa a se conectar para a oração do Santo Rosário, a partir das 4h.
O horário é significativo para os cristãos em quaresma, que interpretam o silêncio da madrugada como um período poderoso para práticas de penitência e disciplina espiritual.
Mesmo no conforto de casa, a congregação online ganha um ar solene por uma iluminação em cores quentes e uma disposição simétrica entre frei e equipe — como discípulos ao redor do líder. No plano de fundo, próximo ao frei, a imagem de Jesus Cristo encara os fiéis atrás das telas.
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Não é por acaso que o sacerdote com 7,8 milhões de seguidores no Instagram conduziu a maratona de quatro horas de live de terça-feira (11) com uma pregação chamada “Ditadura do ruído”, que leva o mesmo título do livro escrito pelo cardeal guineano Robert Sarah.
Enquanto Frei Gilson meditava sobre a importância do silêncio para se conectar com Deus, a transmissão já superava 3 milhões de visualizações.
O sacerdote, cantor e influenciador tem um dos canais cristãos com mais seguidores no Brasil. Frei Gilson pertence à Ordem Carmelita Mensageiras do Espírito Santo, em Nova Almeida (ES), e comandou, durante nove anos, a Paróquia Nossa Senhora do Carmo da Diocese de Santo Amaro, em São Paulo.
Diariamente, as lives de orações vêm batendo mais de um milhão de visualizações simultâneas, marco altamente celebrado pelos apoiadores.
Em ciclos de orações já enraizadas na memória dos frequentadores da Igreja Católica, Frei Gilson intercala as rezas com canções de sua autoria e reflexões de vida e fé, oferecendo mensagens de conforto e esperança aos recém-despertos.
“Você que ainda está deitado nessa cama, bora levantar. Tem essa coragem! Levante-se, vai passar uma água no rosto. Levanta, desperta, porque Deus quer falar contigo.”
Bênção digital
Às 05h04, o líder religioso convida os participantes a ficarem de pé, em momento de comunhão. Ele reza o rosário diante do ostensório, objeto ritualístico utilizado para expor a hóstia consagrada.
Mesmo nos momentos de maior solenidade, o volume de visualizações oscila pouco em quatro horas de live, dominando um dos maiores desafios da influência digital: conectar-se com as dores do público.
Durante a pregação, o sacerdote expõe as aflições cotidianas dos seguidores e a reflete na imagem da cruz que Jesus carrega na liturgia cristã: “É a restauração do seu casamento, a libertação dos seus filhos das drogas, tantas realidades que se tornam pesadas”.
O consolo para essas realidades, nas palavras dele é de que “o sofrimento vai te forjando e te edificando”.
Duas horas mais tarde, nos momentos finais da oração, Frei Gilson pede que os fiéis coloquem diante da tela algum objeto de sua escolha, geralmente um copo d’água, para que possa ser abençoado pelo ciclo de oração.
Apoio e críticas
Com o sucesso das lives, Frei Gilson tem recebido mais atenção nas redes. Ele é apoiado por figuras conservadoras, mas suas falas também foram criticadas por outros grupos.
No Dia Internacional da Mulher (8), viralizou uma fala que virou alvo de críticas, na qual o líder religioso dizia que a fraqueza feminina era “sempre querer mais”.
Ele recebeu o apoio público do deputado Nikolas Ferreira e do ex-presidente Jair Bolsonaro, por exemplo. O deputado André Janones considerou as críticas ao frei uma “arrogância” da esquerda.
Entre preces, canções e objetos abençoados, há também o momento para recados e divulgação de eventos, assim como na missa.
Logo após a primeira hora de preces, Frei Gilson convida os seguidores para o “Desperta Brasil”, evento que pretende “despertar” uma multidão de adoradores por ingressos a R$ 70, em um festival de dois dias programado em Brasília.
De acordo com o Frei, a expectativa para o evento em Brasília é de 70 mil pessoas.
g1