A MAGIA DA SÉTIMA ARTE EM MIPIBU.

São José de Mipibu só veio conhecer o CINEMA – com todo o seu poder de sedução – na década de 40, quando um visionário e apaixonado pelas inovações tecnológicas além de incentivador da cultura chamado Mário Pessoa Guimarães, que residindo na cidade e sonhando vê-la próspera e inserida na modernidade, trouxe os primeiros “artefatos” para montar uma sala de projeção de filmes. O local escolhido para isso foi o Teatro do Centro Artístico Operário, que passou a se chamar “Cine Teatro Artístico Operário”, ponto máximo da cultura da cidade de São José de Mipibu à época; solo sagrado dos artista da cidade – mesmo que amadores -onde realizavam-se peças teatrais, shows musicais e demais apresentações culturais. Foi nesse local que Mário Pessoa Guimarães fundou o primeiro cinema da cidade, agora com o nome de CINE BARÃO DE MIPIBU ( nessa época, com esse nome só tinha o velho Grupo Escolar) e o primeiro filme a ser exibido foi “Rebeca, a mulher inesquecível.” No entanto, essa inovação (o cinema) não fazia parte da cultura e do cotidiano da população conservadora, patriarcal e rural do Município. Assim, não havia público suficiente para manter em funcionamento “a sétima arte” na cidade! Então, o proprietário – para não deixar morrer o seu sonho – com esperança de acostumar a população com a inovação tecnológica mais fascinante do momento, convidava os amigos para assistirem aos filmes e sem pagamento, o cinema faliu pouco tempo depois, fechando as cortinas de uma cultura que em Mipibu, só renasceria uma década depois com o senhor Décio Pereira da Silva, com o “Cine São José”, onde atualmente funciona o Shopping Popular.

DÉCIO PEREIRA DA SILVA

Paraibano de Guarabira – onde começou a trabalhar com apenas sete anos de idade e somente com o primeiro grau escolar – o irrequieto Décio seguiu uma trajetória bem parecida com a dos adolescentes de hoje, que precisam trabalhar para sobreviverem num mundo dividido pelo trabalho estafante, e a ociosidade que leva aos caminhos tortuosos das drogas. Aos sete anos de idade, Décio já era “vigilante” de uma pequena loja, aos onze anos já era vendedor, chegando a gerente com apenas dezoito anos de idade. Assim era a vida dele até decidir vir para o Rio Grande do Norte, precisamente para Canguaretama onde abriu uma loja de tecidos e o primeiro cinema da cidade, onde passou a residir com a família na década de 50. Espírito aventureiro, foi ele residir em São José de Mipibu e já com experiência anterior funda um cinema na cidade. Casado com Noêmia Alves da Silva(de querida e saudosa memória) com quem teve oito filhos que terminaram de ser criados em terras mipibuenses.

O Cine São José foi durante quase uma década, a alegria e o lazer da cidade notadamente das crianças e jovens estudantes. Décio lutou com muito esforço para que o cinema prosperasse e os amantes da arte se beneficiassem com belas películas épicas e com os famosos faroestes que a todos encantavam. Não tinha patrocinadores nem o apoio dos órgãos públicos e o único funcionário era o sobrinho Pedro Brito; embora tivesse os “voluntários” amarrados em cinema como Josuete Alves (Fu), Café, Valdir Cabral, Ivan Lira e Segundo Estevão, para citar apenas alguns que ajudavam em troca “da entrada”. Era uma bela época onde a palavra valia mais do que qualquer papel assinado. Era assim que os voluntários ajudavam a passar os filmes sem reclamarem seus direitos trabalhistas que hoje substitui a palavra, a amizade e a consideração entre os seres humanos. Quem não lembra do Gordo eo Magr, Tarzan, Hapolong Cassyd, os famosos faroestes com milhares de índios e com revólveres que nunca faltavam balas e nem por isso, deixavam de atirar, e da famosa cortina vermelha que separava a entrada da platéia, onde os casais de namorados se refugiavam para alguns momentos de intimidade. Vivia-se numa época de repressão total dos pais sobre os filhos, melhor dizendo, sobre as filhas. Daí, a oportunidade era no cinema, mais precisamente atrás da cortina. Mas as “intimidades” não passavam de alguns beijinhos mais calientes, até porque tudo era pecado.

Esse era o  Cine São José de São José de Mipibu.  Quem pode esquecer as músicas de Bienvenido Granda, Sukiaki e outras músicas que eram oferecidas aos namorados, antes da sessão do cinema ser iniciada? Já se conhecia o “prefixo” musical que indicava o início da projeção, e todos aguardavam ansiosos; e quando tudo parecia bem, a fita se quebrava, as luzes eram acesas e pequenos flagras eram feitos dentre os casais apaixonados. Quem não tinha namorado, aproveitava para ir comprar pipoca ou balas. E tudo recomeçava tranquilamente onde o sonho e a realidade não tinham fronteiras, onde podia-se dar asas à imaginação e se ver projetado na tela grande de “cinemascop” do Cine São José.

Em 1968 Décio vende o cinema para João Nunes e se muda para Belém do Pará, depois para o Maranhão – onde os filhos moram – vindo a falecer em 1997, aos 76 anos de idade. Só para lembrar, o Cine São José foi palco para grandes apresentações de artistas famosos da época, como Valdik Soriano, Nelson Gonçalves, Altemar Dutra, Trio Irakitan e tantos outros.

(Maria Lúcia Amaral – Colaboração dos familiares de Mário Guimarães e de Décio Pereira da Silva)

3 responses to “A MAGIA DA SÉTIMA ARTE EM MIPIBU.

  1. obrigado pelas belas lembraças de minha mãe e meu pai.como falou voce bons tempos eram aqueles.obrigado LUCIA vc e sua família tambem fizeram parte dessa história

  2. Professora Lúcia Amaral,só você para relembrar os tempos bons de S.j.um grande beijo do seu ex aluno.

  3. Muito obrigado por tamanho carinho, respeito e admiração pelos meus pais! Através deste artigo revivi grandes momentos! Obrigado Daltro, um abraço de Batista, filho de Decio e Noemia!

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