Foto: Cyrus Benavides e o seu pai, o médico Edgardo Benevides.
Tantas vezes ele pediu que eu usasse suspensório. Quantas vezes colocou embrulhado num papel de presente no meu guarda-roupa. Inúmeras vezes tentou me convencer da imponência e elegância desse utensílio. Jurou de pé junto, que quem usa fica mais alto e importante. Comprou todas as cores para não fugir a combinação das roupas.
Eu sempre disse não. Como se nos meus ombros não coubesse mais nada. Sempre que imaginava a possibilidade, me vinha a mente o gordinho “Nhonho” do programa Chaves. Aquilo não cabia no formato do meu espelho.
Essa semana, precisei percorrer vários municípios do interior do RN, para fazer reuniões com as equipes das unidades do PROCON. Uma semana intensa de trabalho. Optei por viajar no meu carro particular para levar meu pai junto. Com o fêmur quebrado, levamos sua cadeira de rodas.
Acordei e pensei comigo: o que me impede de vestir o suspensório e ver meu pai feliz?
Então, sai todo empacotado e meio desengonçado. Seus olhos deram festa quando apareci para tomar café. Percorremos mais de 1000 km. No caminho, entre uma cidade e outra, cantávamos musicas bregas no último volume do som do carro. O motorista e o cuidador eram testemunhas desse amor, entre eu e meu pai. Encontrávamos clientes que ele tinha feito o parto. Ele assistia minhas reuniões. Nosso orgulho era recíproco.
Quando chegamos em casa, já era tarde. Estávamos cansados.
Três frases foram marcantes. O motorista emocionado me disse que seu pai havia falecido há 30 dias. Meu pai emocionado, olhou nos meus olhos e agradeceu por ter lhe proporcionado um dia maravilhoso, mesmo que numa cadeira de rodas. Eu emocionado, beijei sua cabeça e lhe disse: Pai, viver é melhor que sonhar, eu quero mais suspensórios…
Cyrus Benavides é poeta, advogado, consultor jurídico com pós-graduação em Ciências Penais, professor universitário e diretor do PROCON estadual.
