UM ENCONTRO COM MORADORES DE RUA DE NATAL

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Morar nas ruas e viver do que a rua pode proporcionar é um desafio que homens e mulheres de todas as idades enfrentam diariamente sob os olhares da sociedade. A falta de trabalho, rompimentos de vínculos familiares motivados pelo uso das drogas e desilusões, são algumas das causas que levam diariamente pessoas optarem por morar nas ruas, se expondo a perigos e situações constrangedoras.

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Essas pessoas que em muitas situações são vistas pela sociedade como mendigos, desocupados e meliantes, são antes de tudo seres humanos em busca de respeito e oportunidade, como é o caso de Clóvis Oliveira(31), vítima das drogas, que mora nas ruas há 7 anos. A entrevista com o morador de rua Clóvis Oliveira aconteceu na calçada do antigo Cinema Nordeste, localizado no bairro da cidade Alta, centro de Natal.

Filho de uma funcionária aposentada dos Correios e de um pastor evangélico, congregado na Assembleia de Deus, Clóvis disse que entrou no mundo das drogas em decorrência da violência familiar, onde seu pai espancava sua mãe, muitas vezes “armado”, além de ter se relacionado com pessoas viciadas desde os 14 anos de idade, quando residia no bairro de Candelária, em Natal.

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Pai de uma adolescente de 12 anos de idade, de quem esconde a condição de viciado. Depois de ter passado por 28 internações em clínicas de reabilitação, Clóvis pensa em sair das ruas mas o vício ainda é maior do que a sua vontade.

Mesmo recebendo regularmente a visita de sua mãe toda segunda-feira, com fortes pedidos de retorno ao lar, o jovem dependente das drogas se mantém nas ruas reciclando lixo para manter o vício, se expondo às condições climáticas e os perigos que a rua oferece.

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APOIO

Clóvis, igualmente a muitos dos moradores das ruas de Natal recebe de segunda a sábado a atenção de uma instituição evangélica denominada Cristolândia, mantida com doações, que oferece nesses dias três refeições, café da manhã, almoço e janta, além de apoio espiritual e psicológico. A Cristolândia fica localizada na avenida Rio Branco, em Natal.

A casa de amparo aos moradores de rua é apenas uma apêndice de um sistema religioso organizado, que se dedica a resgatar moradores de rua de forma espontânea para qualificá-los e inseri-los na sociedade.

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Com o propósito de resgatar cidadãos para a sociedade e “almas” para Cristo, como define Wendel Douglas, missionário da Cristolândia, ex- traficante e usuário de drogas. “Conheço essa realidade, fui traficante de drogas, fiz coisas que a sociedade condena mas Jesus me resgatou para hoje eu preparar cidadãos para a sociedade e “almas para Deus”.

A Cristolândia surgiu há sete anos, em São Paulo, quando um pastor da Igreja Batista caminhando pela cidade paulista se perdeu na “cracolândia”, local que reúne o maior número de traficantes e usuários de drogas naquela capital.

Aflito com o que se descortinava, o pastor teve a ideia de criar a Cristolândia, um projeto de resgate de dignidade presente em várias cidades do Brasil

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PRECONCEITO

Nas ruas, segundo Clóvis, a solidariedade e o desprezo caminham de mãos dadas. As pessoas que margeiam a sociedade, morando nas ruas, são normalmente ignoradas pela sociedade. “ Todos os dias quando acordo fico sentado olhando o vai e vem das pessoas que quando percebem a minha presença mudam os passos e me olham com desprezo. Isso é terrível, é revoltante, ninguém está nas ruas porque está bem, somos vítimas de um vício ou de qualquer outra situação, não somos lixo”, desabafou.

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O Governo do Estado, através da Secretaria de Estado do Trabalho, da Habitação e da Assistência Social – SETHAS, informou que a situação em que vive os moradores de rua em todo o estado é uma preocupação, porém no momento não há qualquer programa de acolhimento e assistencialismo em virtude do números de moradores de rua em todo o país ser muito pequeno, não portarem documentos, em muitos casos fugitivos da justiça, o que desfavorece a criação de um cadastro de políticas públicas voltadas para esse fim, conforme informou Nathalie Medeiros, coordenadora da Assessoria Técnica da Gestão do SUAS no RN.

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