POTIGUAR VIRA MODELO PLUS SIZE EM ISRAEL E LUTA CONTRA PRECONCEITOS E PADRÕES DE BELEZA

Hannah Hebron em desfile da Tel Aviv Fashion Week — Foto: Divulgação.

A potiguar Hannah Hebron, de 27 anos, tem vivido algumas transformações desde 2018. No último mês de janeiro, ela, que é judia, deixou o Brasil para fixar residência na cidade Tel Aviv, em Israel, país onde já havia morado em anos anteriores. Jornalista por formação e apaixonada por moda, direcionou seu futuro a outros mercados após vivenciar o universo das passarelas em experiências profissionais no Rio de Janeiro e entendê-lo muitas vezes como excludente e elitizado. Eis que, nessa fase de transição, ela recebeu um convite especial: posar para uma campanha plus size de uma marca israelense chamada Retema. E aceitou – o que representou o início de uma nova carreira.

O convite aconteceu em agosto do ano passado, quando Hannah, que foi apresentada à empresa pela modelo israelense Ray Saveg, se preparava para escrever algo sobre a marca e a representatividade dela nas campanhas, na confecção e produção de roupas. “Ao mesmo tempo que eu estava repensando toda minha relação com a moda, com o consumo, e problematizando isso, pela primeira vez eu vi uma marca que estava criando roupa que está na tendência, que as mulheres querem, que está na tevê, nos filmes e nas passarelas dando um interpretação própria pra isso, trazendo isso pras ‘araras’ em um número que essas mulheres possam consumir”, contou Hannah.

A potiguar entendeu o tamanho da posição que passou a ocupar contra os estereótipos e contra o preconceito após a campanha ser publicada. “A resposta que eu tive de meninas que eu nem conhecia me agradecendo por enxergarem em mim algo que elas queriam ser, numa coisa de libertação, de se libertar de uma pressão estética, social, do ser igual e ser magra e ser perfeita. Eu fiquei muito feliz e decidi que ia abraçar isso e seguir com essa coisa e essa carreira maluca”, contou.

Em março deste ano, Hannah Hebron se viu dando um passo, literalmente, ainda mais ousado ao desfilar na Tel Aviv Fashion Week de biquíni. Apresentar a moda que defende em cima de uma passarela, expondo o próprio corpo, foi uma experiência nova, mas que representou muito.

A reaproximação com o mercado da moda aconteceu após ela perceber a luta de pessoas e empresas para que esse universo seja mais inclusivo. “Enquanto eu estava na página dois problematizando o consumo desenfreado, tem mulher que nunca pode comprar porque nunca existiu pra ela uma roupa desejável, uma roupa com uma comunicação legal. Então eu decidi que eu ia começar a me interessar, mergulhar mais nesse mundo, me aceitar como eu sou”, falou Hannah.

Relação com o próprio corpo

A aceitação do próprio corpo não foi e nem é – porque segue como algo contínuo – um processo fácil, explica Hannah Hebron. “Levou muita terapia, não foi só um estalo, levou processo de autoconhecimento”, contou.

A potiguar conta que sempre carregou consigo uma imagem padrão que deveria ter. “Eu imaginava que pra ter uma vida boa eu tinha que ser magra. Eu tinha uma imagem na minha cabeça do que era esse corpo e eu não levava em consideração a minha própria morfologia. Eu sou baixinha, nunca vou ser alta e super esguia. Então eu apenas pegava aquela imagem e botava aquilo como um objetivo inalcançável, que me machucava muito mais”, explicou.

Hanna Hebron explicou que, com o tempo, passou a respeitar mais o próprio corpo e “que tipo de magreza poderia ter”. “Esse foi o meu primeiro passo, que ainda assim era muito problemático”, falou.

Fazendo dietas em busca do “corpo perfeito”, ela sofreu com distúrbio alimentar, distúrbio de imagem e passou a perceber vários problemas em todo esse processo. “Pouco a pouco eu fui entendendo. E aí tudo foi muito de ficar maluca com essas coisas. De sentir uma culpa, porque, sei lá, eu não fui malhar um dia, que isso tomava tanto tempo do meu dia, do meu emocional e da minha saúde mental que eu fiquei meio chocada”.

Esse momento representou uma transformação. “Pouco a pouco eu fui vendo quão ridícula era essa obsessão. Fui dando unfollow em rede social em musa fitness, fui me desligando de revista. Pouco a pouco eu fui tentando me desvencilhar disso”, lembrou.

Em meio à essa mudança, Hannah conta que sofreu um “efeito rebote” quando parou cultivar essa cultura da busca pelo corpo perfeito. Assim, passou por um momento completamente invertido em que comia de tudo. “Da mesma forma que essa pessoa obcecada em emagrecer não sou eu, essa pessoa que come tudo que vê pela frente compulsivamente também não sou eu. Eu sou essa pessoa aqui”, disse.

Fincar bandeira nas passarelas

Mesmo sem ter a intenção de trabalhar novamente com moda quando foi para Israel, a potiguar manteve os estudos no tema, por se tratar de um interesse que tem desde que era criança, por influência da família. Apesar de já conhecer o universo plus size, foi neste momento em que passou a ter mais referências no tema.

“Eu comecei a ler muito sobre feminismo interseccional e de ouvir meninas, ver muitos vídeos, conversar com muitas pessoas, meninas que passaram por situações muito bizarras por serem gordas, por serem diferentes do que o padrão que a gente vê nas revistas”, relatou. “Meninas que estavam dando o cara a tapa, indo trabalhar com moda, com imagem e enfim fincando uma bandeira num território que antes não era nosso, não era delas, não era de pessoas fora desse padrão magro e branco”, completou.

Diante do padrão imposto historicamente no mundo das passarelas e da conquista de um novo cenário pelas modelos plus size, Hannah Hebron avalia que é importante não criar um novo padrão. “Se a gente entra na lógica da indústria, a gente vai ser mais um padrão de corpo, que é um corpo para os padrões gordos aceitável pela sociedade. Então a gente tem que ter muito cuidado com isso”, pontua. “O mundo plus size ele não pode ser um novo mundo problemático. Ele tem que ser um mundo que a ajude a gente a quebrar padrões e não pra criar novos”, exaltou.

O estudo sobre o universo plus size e processo de autoaceitação e autoconhecimento seguem contínuos. “Não é um discurso fácil, não é um discurso que a gente tem que vender pronto de ser muito fácil se aceitar. Não é. Eu demorei 27 anos pra chegar onde eu estou, de me sentir bem comigo mesma e ainda assim não é uma coisa que acontece todo dia. Então, não dá para parar de tentar entender, tentar conversar e falar”, explicou.Cerca de 40% dos estudantes não tomam café da manhã e hábito prejudica aprendizado.

Por: G1 RN.

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