POR PROCÓPIO JÚNIOR: NATAL DE TEMPOS EM TEMPOS

Cruzamento das ruas Santo Antonio e Padre Pinto – Natal – RN

Aos que procuram guardar na memória um tempo criança vivido nos limites da cidade do Natal; aos que costumam colher lembranças de momentos arrebatadores e arquivar, em seus corações, instantes tão vivos que provocam uma bi-locação sentimental, o autor ofereçe esta obra como um compêndio histórico desta Cidade dos Reis Magos.

De acordo com Procópio Júnior, Natal de Tempos em Tempos busca realizar um retrato descritivo das ruas, praças, casarões, personagens, costumes e fatos da cidade do Natal, que o tempo distanciou, mas que continua presente na sua história como marco da sua imortalidade.

O autor narra sobre o tempo de antes e de agora. Sobre logradouros inesquecíveis e eventos raros. Escreve sobre os insurretos de 1935; sobre o Campo de Concentração Potiguar no período da 2ª Guerra Mundial. Lembra os heróis dos raids náuticos e andantes. Escreve sobre os primeiros bairros da cidade como também sobre suas ruas renomeadas, mas que guardam, por pirraça, os nomes primitivos. Lembra logradouros como o Tabuleiro da Baiana, o Beco da Lama, as Pontes sobre o Potengi. Refere-se às andanças da Coluna Capitolina, além das inesquecíveis entidades que têm a Rádio Educadora do Natal – REN, como um dos seus marcos pioneiros.

A RUA PADRE PINTO

A Rua Padre Pinto do meu tempo era limitada, em seus extremos, por duas forças antagônicas. De um lado, a Força Policial, representada pelo 1º Distrito da Capital. Do outro, a Força Carnal, representado pela boate de “Maria Boa”. Dentro desses limites casuais residia um povo alegre, bom e honesto.

Segundo Jeanne Nesi, no séc. XIX a Rua Padre Pinto, localizada no bairro da Cidade Alta, era conhecida como a Rua do Fogo. Em razão de o Padre Pinto residir naquela rua, a artéria passou a ser conhecida como a “Rua do Padre Pinto”. Através do Decreto Municipal de 13 de fevereiro de 1888, o topônimo Rua do Fogo foi substituído, oficialmente, por Padre Pinto.

O historiador Luís da Câmara Cascudo definiu o Padre Pinto, patrono da rua, como “uma criatura pequena, gorda, andando depressa, gostando de ouvir histórias e achar graça nas anedotas. Esperava a hora da ceia debaixo das gameleiras da Praça da Alegria”. (hoje Praça João Maria).

Informa-nos ainda Jeanne Nesi que o Padre Pinto faleceu na Rua Santo Antônio, onde estava residindo, em dois de agosto de 1850, à véspera do seu septuagésimo sexto aniversário. Disse, mais, que aquele logradouro sempre manteve uma tradição invulgar, pois, já no séc. XIX era famoso pelo teatro improvisado dos grupos de amadores, pelas suas serenatas e festas noturnas. Nessa época, figuras como Joaquim Açucena, João Manuel de Carvalho, Francisco Atílio, e o pai do historiador Tobias Monteiro – Rodolfo Monteiro, constituíam a Geração do Recreio, que publicou, em 1861, a primeira obra literária da província.

No século passado, tive oportunidade de participar, naquela rua, de várias festas de São João, como também de realizar sonorosas serenatas na janela da minha escolhida, ao lado de amigos como Pelágio Guerra (Guerrinha), Edmilson de Assis, Túlio Teotônio, Efraim, Liz Nôga, Dário Guimarães, Willian Cordeiro (Vilinha). Alguns desses já no plano superior, outros, aqui ainda “estrebuchando”, assinalando um tempo de romantismo, aventuras e descobertas.

Figuras folclóricas como Cuíca, Pinta Cega, Maria Calixta, assustavam as crianças daquela artéria, enquanto a rapaziada explorava o quintal de Toinho Goiaba, para jogar bola ou furtar manga.

A Rua Padre Pinto hoje é lembrada pela sua tradição histórica, como também pelas antigas concentrações dos jovens de ruas e adjacências que para ali se deslocavam, para exercer na calçada “alta” da casa de Dona Vitória Maria, uma salutar confraternização, ouvindo histórias e achando graça nas anedotas, a exemplo do inesquecível Padre Pinto.

Naquela rua residiam as famílias Amorim, Ananias, Revoredo, Pinheiro, Tibúrcio, Quinderé, Quithé, Noronha, Cortez, Cavalcanti, Patriota, Cunha, Almeida, Alípio, Aracati, entre outras que desertaram da minha memória. Enquanto senhoras como D. Vitória Maria, D. Iolanda Josuá, D. “Mida”, D. Nair, D. Arthemízia, D. Margarida, D. Severina e D. Catarina, exerciam uma rígida e infrutífera vigilância, “quase militar”, sobre os “brotos” e “cocotas” de então.

Os moradores da “Rua do Padre Pinto”, que participaram, mesmo esporadicamente, dos inesquecíveis “bate-papos” em frente à casa de D. Vitória Maria, são identificados hoje como “amigos da Padre Pinto”. Esse reconhecimento enaltece os apontados, por tatuar um instante na história daquela rua com “ordenação sacerdotal”, que guarda em seu chão irretocável parte da história da cidade do Natal.

Sobre o autor: Manoel Procópio Júnior é pesquisador, escritor, procurador aposentado da Assembleia Legislativa do Rio Grande do Norte – ALRN, advogado, mestre maçom e membro do Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Norte – IHGRN, e da Academia Maçônica de letras do Rio Grande do Norte – AMLERN.

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