AFIPE SE DESLIGA DE PADRE ROBSON E RETOMA PARTE DE DOAÇÕES MILIONÁRIAS

Foto: Reprodução/Instagram

Em setembro do ano passado, logo após a deflagração da Operação Vendilhões e o escândalo envolvendo suposto desvio de dinheiro doado por fiéis, e que seria protagonizado pelo padre Robson de Oliveira, a Associação Filhos do Pai Eterno (Afipe), criada e presidida, até então, por ele, sentiu no bolso os efeitos da investigação do Ministério Público do Estado de Goiás (MPGO).

A associação chegou a perder 80% da arrecadação que costumava ter de R$ 20 milhões (em média, por mês) proveniente das doações feitas por devotos. Ela iniciou um processo de retomada da confiança, sob pena de inviabilizar projetos e o prosseguimento da obra do novo Santuário do Divino Pai Eterno, em Trindade (GO), que se arrasta há mais de oito anos. Até o nome foi alterado. Agora, é Nova Afipe.

Hoje, após mudar a diretoria e tentar se desvincular da imagem de padre Robson, ainda rodeado por polêmicas e afastado das atividades religiosas por decreto canônico que tem validade por tempo indeterminado, a Nova Afipe, conforme resposta enviada ao Metrópoles, conseguiu conter a queda brutal e já arrecada algo em torno de 50% do que recebia antes.

A presença da imagem e do nome de padre Robson no site e nas redes sociais da associação, algo bastante explorado antes do escândalo, reduziu bruscamente. Informações sobre a vida e trajetória do padre na igreja, que constavam no site já não estão mais lá. O nome dele deixou de ser citado até em textos institucionais, referentes à criação da Afipe, idealizada por ele em 2004, e à obra do novo Santuário.

O mesmo ocorre com as notícias antigas, nas quais ele era citado. Elas foram excluídas. Quando se joga o nome do padre na busca, aparecem apenas quatro menções: duas sobre a decisão do Tribunal de Justiça de Goiás (TJGO) de trancamento do processo do qual ele é réu, algo que está em apreciação no Superior Tribunal de Justiça (STJ), e duas repercutindo entrevistas do atual presidente da associação, padre André Ricardo de Melo, nas quais Robson de Oliveira foi mencionado.

Reserva financeira

A Nova Afipe informou que procurou se recompor nos últimos cinco meses com dinheiro da reserva financeira, a qual estaria próxima de chegar ao fim. De acordo com o levantamento feito pelo MPGO, a Afipe recebia em média R$ 20 milhões por mês em doações. A obra do novo santuário, avaliada, inicialmente, em R$ 100 milhões está orçada, hoje, em R$ 1,4 bilhão.

“A nova diretoria composta por representantes da Província Redentorista de Goiás e da Arquidiocese de Goiânia tem realizado, incansavelmente, a tarefa de encontrar soluções para os problemas financeiros da Associação, principalmente por meio da redução de custos e enxugamento das estruturas”, pontua o texto da nota.

Os que continuam fazendo doações, segundo a associação, são dois tipos de devotos: aqueles que “não abandonaram o barco no momento de maior turbulência” e os que estão aderindo por acreditar mais no Pai Eterno do que nas pessoas que servem no trabalho evangelizador.

Nova política evita citar nomes particulares

À frente da Afipe, padre Robson sempre fez questão de associar sua figura à associação, até porque, por ser famoso, líder de uma das maiores festas religiosas do país e um dos padres mais conhecidos da igreja católica no Brasil, ele atraía muitos devotos, dispostos a fazer doações. A imagem dele e a parte institucional se misturavam, de certa forma.

Na TV Pai Eterno, criada em 2019 e que é elemento central da comunicação feita pela Afipe com os fiéis, a presença de padre Robson era diária. Ele aparecia várias vezes por dia até, rezando novenas e terços. Na página da associação no Facebook, a imagem dele era utilizada até nas fotos de capa.

Questionada sobre o porquê da retirada das informações referentes ao padre do site da associação, a Nova Afipe adota um discurso coletivo. “Além dos reitores, todos os outros missionários que com eles trabalharam de algum modo, têm o direito de terem seus nomes citados na história desse trabalho evangelizador”, diz o texto da nota. E como são muitos, de vários estados, a associação optou por não citar mais nomes particulares.

Padre Robson está afastado das atividades e proibido de se manifestar por decreto canônico. Ele tem procurado se manter no anonimato desde que o escândalo veio à tona. A última aparição dele ocorreu no mês passado, durante assembleia on-line dos redentoristas.

Por Galtiery Rodrigues/Metrópoles

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