“AS PRAÇAS DA CIDADE” POR MANOEL PROCÓPIO DE MOURA JÚNIOR

 O multifacetado Procópio e sua esposa Jarilda, ou Preto e Preta, como carinhosamente se identificam, com Daltro Emerenciano – Foto: Arquivo/ Ilma Emerenciano

O pesquisador, procurador aposentado da Assembleia Legislativa do Rio Grande do Norte – ALRN, advogado, mestre maçom, membro do Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Norte – IHGRN, e da Academia Maçônica de letras do Rio Grande do Norte – AMLERN, Manoel Procópio de Moura Júnior, brinda a cultura imaterial potiguar discorrendo sobre mudanças de paradigmas, enfocando a não utilização nos tempos atuais, de espaços públicos como meio de socialização e entretenimento.

Convidamos os leitores do Blog para um mergulho nesse olhar infinito de Manoel Procópio Júnior.

 As Praças da Cidade 

A MPB poetiza: “A Mesma Praça, O Mesmo Banco, As Mesmas Flores, O Mesmo Jardim”. Entretanto, as novas gerações modificam estes velhos hábitos e costumes. O tempo muda tudo e as praças foram ficando invisíveis. A isto chamaram de evolução.

Tudo se transformou. Desapareceram os gazeteiros, os vendedores de pirulito no tabuleiro furado. Não ecoam mais o som do triângulo do Cavaco Chinês. Hoje, as Praças sem bancos e jardins permanecem apenas delimitando espaços em uma aparente inutilidade.

Décadas atrás, as Praças eram pontos de concentração de toda cidade, disponibilizando encontros no contexto social.  Eram lugares de passeios dominicais e eventos que justificavam sua existência, ressaltando assim a sua importância no conteúdo histórico da cidade.

Na Praça Pedro Velho, as famílias passeavam ao lado dos tanques com tartarugas ou dos pés de fícus Benjamin podados com figuras de animais. Estes instantes eram eternizavam em fotos, tiradas por profissionais. Existia um parque infantil e uma lanchonete que cedeu espaço ao “Ginásio Sylvio Pedroza”. Ali aconteceram grandes desfiles de Carnavais e do dia “7 de Setembro”. Hoje não tão grandes assim.

Na Praça Padre João Maria repousei o meu cansaço a sombra dos pés de ficus Benjamin. Ali, sofrendo ataques dos insetos Thrips, apelidados de “lacerdinhas”, a rapaziada observava o passar das mocinhas em busca dos colégios. Algumas colegiais se detinham junto ao Busto do Santo Padre, orando por uma boa prova ou para renovar amores perdidos.  Outras almas devotas deixavam ali seus agradecimentos em forma de vela, em reconhecimento aos milagres recebidos ou pelas promessas atendidas. Hoje esta praça, lamentavelmente está entregue aos usuários de drogas.

A Praça Pio X, no ano de 1960, testemunhou um comício de Janio Quadros a Presidência da República, em companhia de Plínio Salgado. Nela os jovens testavam sua coragem no “Tira Prosa” atração maior da “Festa da Mocidade” ali armada e administrada por Demócrito Coriolano de Medeiros. Posteriormente esta atração foi montada na Praça André de Albuquerque. No chão da Praça Pio X foi erguida a Nova Catedral da Cidade.

Na Praça André de Albuquerque, arborizada com Oitis, aconteciam retretas com bandas posicionadas no coreto que posteriormente foi substituído por outro com quatro canhões e um Pelourinho assentado em seu ponto central. Na reforma administrativa de Djalma Maranhão, o coreto dos canhões foi substituiu por uma Concha Acústica que compreendia um bar e uma biblioteca.

Era na Praça André de Albuquerque, que acontecia a festa profana de Nossa Senhora da Apresentação. Entre vendedores de “Rolete de Cana de Açúcar” e de “Barquinhos de papel com Fubá de milho”, havia o passeio circular das mocinhas exercitando o flerte, como também o show do “Capitão Tony” em sua motocicleta, entusiasmando a mocidade. Severino Francisco orquestrava a alegria através do “Parque São Luiz”, com sua Roda Gigante, Barcos de balanço, Carrossel e barracas de jogos. Uma Divulgadora anunciava músicas oferecidas por amantes de uma maneira peculiar: “De um alguém para outro alguém com muito amor e carinho”.

Hoje, as Praças se renderam aos novos costumes e silenciosamente adormeceram. Entretanto, basta apenas uma fragrância ou algumas notas musicais para despertar de súbito um tempo que se perdeu no tempo. As Praças de ontem são hoje simplesmente espaços ajardinados de recordações.

2 responses to ““AS PRAÇAS DA CIDADE” POR MANOEL PROCÓPIO DE MOURA JÚNIOR

  1. Saudosismo justificado pela sensibilidade presente na observação do vai que não vem. Silêncio quase sepulcral não fosse o barulho de ônibus e automóveis que dão vida às avenidas.
    Lembro de tudo isso!
    A cidade como contraste de movimento era tranquila, calma, enquanto fervilhava de emoções. Hoje, intranquila, assusta pela agitação da violência visível.

  2. Prezado Dr. Manoel Procópio de Moura Júnior
    Desculpe tratar de assunto diverso daquele em destaque nesta publicação.
    Apenas hoje, li artigo que o senhor escreveu para o Jornal de Hoje (acredito que lá por 2012), publicado também no site: http://www.judoctj.com.br/takeo-yano-o-mestre/ e, por curiosidade história, gostaria de confirmar se o Sensei Takeo Yano FIXOU residência, ininterruptamente, em Natal entre 1950 e 1959.
    Tal curiosidade se dá em razão de haver informações de antigo e já falecido judoca, segundo as quais, no início dos anos 50, Yano teria também fixado residência em Porto Alegre em período de tempo suficiente para formar alguns dos faixas pretas, pioneiros nessa cidade. Imagino que, à época, fossem necessários ao menos 2 anos para que fosse outorgada a faixa preta para alunos que tivessem experiência anterior em lutas. Daí minha curiosidade quanto aos reais pioneiros do Judô em nosso estado e quanto tempo eles efetivamente estiveram em contato com Sensei Yano.
    Agradeço, antecipadamente, por qualquer informação sobre o Sensei Yano que o senhor possa fornecer.
    Atenciosamente
    Ricardo M O Borges.

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