O QUE EXPLICA A MORTE DE TARCÍSIO MEIRA POR COVID-19 APÓS DUAS DOSES DE VACINA

Foto: Lailson Santos/Divulgação

A morte do ator Tarcísio Meira, de 85 anos, por complicações da Covid-19 mesmo após concluir o esquema vacinal pode levantar dúvidas em relação à efetividade das vacinas contra a doença. Especialistas médicos, porém, explicam que um caso do tipo não significa um atestado de falta de efetividade dos imunizantes, mas, na verdade, o agravamento do quadro está intimamente ligado ao funcionamento do sistema imune do corpo.

Aos 85 anos de idade, Tarcísio estava em uma faixa de idade em que há a chamada imunossenescência, que é o envelhecimento do sistema imune, responsável pelo combate às doenças no corpo humano. É possível perceber seu efeito, por exemplo, em um estudo que avaliou a efetividade da vacina CoronaVac em São Paulo.

Na análise, a vacina apresentou potência para evitar 80,1% das hospitalizações e 86% dos óbitos quando avaliados o público de 70 a 74 anos. Contudo, quando a análise é fatiada para quem tem 80 anos ou mais, há uma importante queda na robustez da proteção: a efetividade para hospitalizações cai para 43,4% e, de mortes, para 49,9%.

— Existe uma tendência de queda de anticorpos produzidos pela vacina de acordo com o tempo (decorrido após a imunização). Isso para todos, mas com maior intensidade pelos idosos, que tem essa questão da imunossenescência. Ou seja, eles respondem menos à vacina e a tendência, diante dessa resposta imune menor, seria um impacto na proteção (contra a Covid-19) — explica o pesquisador Julio Croda, da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) e da Universidade Federal do Mato Grosso do Sul.

Além disso, é importante ressaltar que nenhuma vacina é 100% eficaz para casos sintomáticos, internações e mortes. Há, é claro, pessoas que não apresentam resposta imune em todas as idades, mas a prevalência é maior entre os pacientes com idade mais avançada.

— Não dá para afirmar que alguém que tomou duas doses da vacina estará blindado, independentemente da marca (do imunizante)— explica Leonardo Weissmann, médico infectologista do Instituto Emílio Ribas, em São Paulo, e consultor da Sociedade Brasileira de Infectologia.

Weismann explica que a falta de proteção de um percentual de pessoas, em específico, não configura como um “defeito” de determinada vacina, mas sim é esperado para o processo de imunização.

— A grande maioria das pessoas que tomam as vacinas poderão evitar formas graves da doença, internações e mortes. Infelizmente, haverá uma pequena parte da população que não ficará protegida, e isso vale para qualquer vacina, para qualquer doença, independente do fabricante — explica o médico.

Diante desse cenário, especialistas em saúde pedem que mesmo as pessoas totalmente vacinadas usem máscara, mantenham o distanciamento social e evitem aglomerações. Essas são formas eficazes de evitar o contágio e medidas ainda muito necessárias diante do atual patamar de alta transmissão da Covid-19 no Brasil.

O Globo

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