PASTORA RECEBE AMEAÇAS DE MORTE APÓS CELEBRAR UNIÃO HOMOAFETIVA

Foto: Arquivo pessoal

A pastora batista e teóloga Odja Barros prestou queixa nesta terça-feira (14) após receber ameaças de morte direcionadas a ela e a sua família por conta da celebração de um casamento entre duas mulheres no dia 5/12, em Maceió. Ela é líder religiosa da Igreja Batista do Pinheiro na capital alagoana. A repercussão do caso veio após matéria publicada por Universa, no último sábado, contando sobre o ato histórico da pastora em aceitar unir o amor de duas mulheres em uma celebração religiosa com efeito civil.

Desde a publicação, ela recebeu centenas de mensagens de carinho e elogios pelo casamento homoafetivo, mas também recebeu ofensas e ataques. Pelo menos um deles se destacou pela violência, com envio de foto de uma arma e ameaças de morte. Na manhã desta quarta-feira (15), Odja esteve na Delegacia-Geral de Alagoas para prestar depoimento. O caso será designado a um delegado especial na sequência.

A mensagem veio na segunda-feira, mas foi visto pela pastora apenas no dia seguinte. Em áudios recebidos nas suas mensagens diretas do Instagram, um homem a ameaça de morte: “Tá vendo esse revólver aqui? Eu vou colocar cinco bala [sic] na sua cabeça, viu, sua sapatão?! Nunca que você é uma teóloga. Nunca, mano! Tá tirando, mano. Tu tá usando a Bíblia, mano, que nunca leu um livro pra casar duas mulé [sic], sendo que Deus condena isso lá em Levítico. Você tá tirando, mano, teóloga? Quantos livro [sic] você leu, cara? Você vai pagar, minha irmã, porque eu já tenho aqui os seus familiares”.

A mensagem partiu de um perfil de um homem que diz morar em Maceió e que se apresenta como “cristão” e ainda cita em sua descrição: “DEUS tu és o rei, o supremo Governador de tudo!” O perfil dele tem 16,9 mil seguidores e há apenas três fotos publicadas —todas do que seria o rosto dele.

Diante da gravidade da ameaça, a pastora procurou a polícia e denunciou o caso em um boletim de ocorrência. Também foi até a Secretaria da Mulher e Direitos Humanos de Alagoas denunciar os crimes praticados pelo perfil.

Ataques sem parar após matéria

A Universa, a pastora Odja falou que, após a matéria, houve uma grande repercussão e até republicações em páginas e perfis em Alagoas e até fora do estado. “Isso começou a atrair um outro tipo de pessoas, que começaram a vir ao meu Instagram e mandar mensagens agressivas, violentas, desrespeitosas”, conta.

Ela relata que, ciente da enxurrada de ataques, deixou a administração de conta com suas filhas, que foram excluindo as mensagens e bloqueando os agressores. “Nesse processo eu fui muito blindada para não ter acesso a essas postagens. Elas ficaram extremamente cansadas porque não parava de chegar mensagens”, diz.

Entretanto, na manhã desta terça-feira, percebeu que as mensagens subiram de tom pela reação da filha. “Ela estava chorando muito; estava nervosa, amedrontada. Eu fiquei, a princípio, sem entender e achando que não era algo que deveria dar muita importância. Mas ela não conseguia nem dizer o conteúdo da mensagem”, conta.

Odja explica que, inicialmente, não teve acesso ao conteúdo das mensagens enviadas, mas acabou tomando ciência porque a filha procurou um advogado da igreja para compartilhar as mensagens, e ele alertou que o caso era grave e que teria de ser denunciado.

“Esse fato nos surpreendeu e nos impulsionou a tomar a decisão de buscar a polícia. Fizemos um boletim de ocorrência e fomos até a Secretaria da Mulher e Direitos Humanos para registrar a denúncia de crimes de ódio religioso, homofobia e atentado à minha pessoa”, diz.

Pastora Odja afirma ainda que perdeu as contas de quantas mensagens de ódio e ofensas recebeu diretamente desde que a matéria foi publicada. “Foram milhares, que questionaram o fato de eu ser mulher e ser pastora e teóloga; outras desautorizando o meu trabalho. Foram palavras ofensivas de todo tipo, e acredito que isso tem a muito a ver não só pelo ódio homofóbico, mas também pelo fato de eu ser uma liderança feminina”, diz.

Para ela, as ameaças são fruto de um momento difícil da sociedade brasileira, em especial aqueles que misturam fé com ódio e violência.

“Quem está alimentando isso? Eu não estou vendo só esse rapaz, estou vendo quem está alimentando ele, alegando que que entende e está defendendo a Bíblia, defendendo a ‘moral cristã.’ Não é só ele o responsável por isso. Todos e todas que fazem o discurso religioso do ódio, da homofobia são responsáveis por isso também”, afirma.

A pastora fez questão de destacar a importância do apoio que tem recebido dos membros da Igreja Batista do Pinheiro —que têm sofrido com ataques e provocações. “As pessoas da igreja têm recebido constantemente prints de outros crentes com as repercussões e fazendo provocações. A nossa comunidade — que eu pastoreio junto com Wellington, meu companheiro — está nos guardando e lutando conosco”, diz, citando que o apoio da congregação é fundamental para seguir com a luta por igualdade de direitos.

O ataque foi condenado pela secretária de Estado da Mulher e Direitos Humanos, Maria Silva. “As ameaças que sofreu refletem uma sociedade doente, marcada por preconceitos e pensamentos abomináveis que não tem espaço no mundo em que hoje vivemos e onde, seguindo a linha dos direitos humanos, buscamos a igualdade, a proteção de todas e todos os cidadãos e a liberdade para ser quem se é. Estaremos juntos com ela e sua família para acompanhar cada passo deste caso”, afirma.

UOL

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