SEM COPA DO MUNDO, IPHONE E FILMES DA MARVEL, RÚSSIA ENCARA AS SANÇÕES CONTRA PUTIN

 

Foto: Aleksei Druzhinin/Kremlin via REUTERS

Quando tomou a decisão de invadir a Ucrânia, de sua enorme sala de mármore no Kremlin e ostentando a grandeza da Rússia dos czares, Vladimir Putin tinha tudo planejado. Despejaria a força de seu arsenal militar, marchando com quase 200 mil soldados até a capital do país vizinho, derrubando o governo ucraniano. Por trás da confiança estava a certeza de que Europa e EUA, ocupados com questões internas, não seriam capazes de reagir.

Uma semana depois da ordem de invasão, Putin e a Rússia se veem isolados do restante do mundo, enfrentando diariamente novas sanções em todas as áreas, das mais tradicionais e de efeitos imediatos, como as econômicas, até as esportivas, passando pelas áreas de cultura e de tecnologia.

Uma cena emblemática, no entanto, ficará marcada pela diplomacia mundial, a de dezenas de diplomatas deixando a sala onde acontecia a Conferência sobre o Desarmamento da ONU, em Genebra, na Suíça. O boicote ocorreu durante fala transmitida por vídeo do ministro de Relações Exteriores da Rússia, Sergei Lavrov. Um a um, os diplomatas viram as costas ao discurso do russo.

Representantes de mais de 40 países se manifestaram dessa forma em protesto contra a invasão russa à Ucrânia.

Em suas primeiras declarações, Putin bateu no peito e mandou mensagens aos russos garantindo que o país estava preparado para qualquer retaliação. No entanto, em sete dias, a resposta contra a Rússia, vinda de todos os cantos do planeta, parece minar os planos do Kremlin.

Sanções tão abrangentes, inevitavelmente, afetam a população. Ou seja: o povo russo será penalizado. Estrategicamente, a ofensiva diplomática tem como objetivo colocar o governo contra a parede diante do sofrimento dos russos – ampliando também a pressão interna contra o regime de Putin.

No tabuleiro econômico, não há brincadeira. Tampouco espaço para jogadas em falso. Gigantes globais de diversos setores estão anunciando, em um ritmo crescente, a suspensão de seus negócios na Rússia. A lista ganhou corpo com o anúncio da Apple, que parou de vender produtos no país, manifestando preocupação com o maior conflito na Europa desde a 2.ª Guerra. Segundo especialistas, esse movimento está em curso e vai crescer com a pressão de investidores.

A relação ainda envolve grandes petrolíferas, como a Shell, que no início da semana comunicou que estava saindo de todas as suas operações russas, incluindo em uma grande usina de gás natural liquefeito.

Outras duas gigantes do petróleo seguiram o mesmo caminho: a americana ExxonMobil e a britânica BP – a saída da companhia deve ter impacto de US$ 25 bilhões no desempenho financeiro da petrolífera britânica deste trimestre, que será divulgado em maio.

Aperto financeiro

O professor de relações internacionais da FGV, Eduardo Mello, destaca a velocidade das sanções. “Todas as empresas vão começar a se preocupar com sanções. Não é mais uma questão de ser lucrativo ou não estar na Rússia. Para a maioria das empresas, vai se tornar legalmente impossível”, disse.

No esporte

A guerra também tirou da Rússia a possibilidade de disputar uma Copa do Mundo de futebol, a do Catar, marcada para novembro. A seleção estava na repescagem para se classificar depois de sediar a edição passada. A Rússia está fora. Mesmo a contragosto, o presidente da Fifa, Gianni Infantino, se viu pressionado a excluir o país da festa do futebol. Estava nas eliminatórias.

Fórmula 1 também não vai correr em Sochi, assim como o piloto da escuderia Haas Nikita Mazepin não poderá pilotar no GP da Inglaterra, conforme anunciado ontem. Trata-se de uma punição individual. A Uefa também tirou de São Petersburgo a sede da final da Liga dos Campeões de futebol. Além do jogo, a cidade perderá cerca de US$ 66 milhões sem a chegada dos torcedores. A partida, marcada para 28 de maio, foi transferida para Paris.

Na tecnologia

O impacto da invasão isola Putin em um terreno ainda mais perigoso para o desenvolvimento da Rússia, a tecnologia. A Apple barrou a venda dos novos iPhone, iPad, MacBook e outros produtos no país. “Apoiamos os esforços humanitários, dando ajuda à crise de refugiados que se desenrola (com a guerra) e fazendo o que podemos para apoiar nossas equipes na região”, escreveu a empresa em nota.

Empresas como Google, Twitter e Meta (ex-Facebook) anunciaram a remoção de conteúdos ligados às mídias estatais russas. O bloqueio é uma forma de conter a campanha de desinformação de Putin. “Nesta crise, estamos tomando medidas extraordinárias para impedir a disseminação de desinformação online”, disse Kent Walker, presidente de assuntos globais do Google.

Estadão Conteúdo

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