NÚMERO DE FILIADOS ENCOLHE PELA PRIMEIRA VEZ EM ANO DE ELEIÇÃO MUNICIPAL

Foto: Rodolfo Buhrer

A política partidária está atraindo menos os brasileiros. Pela primeira vez desde 2004, o número de filiados a partidos políticos no país encolheu em um ano de eleição municipal. Levantamento do GLOBO com base em dados do TSE aponta que o número de pessoas vinculadas a legendas caiu 2% em 2020, se comparado a 2018. Ao todo, o país tem 16,49 milhões de pessoas em 33 partidos.

A queda, mesmo pequena, é inédita. Historicamente, os pleitos municipais são momentos em que as siglas tendem a aumentar a sua base de olho nas disputas por um lugar nas câmaras de vereadores de todo o país. Em 2016, por exemplo, o crescimento na comparação com 2014 foi de 7,7%. Em 2012, de 8,83%. Até agora, somente uma queda do número de filiados havia sido registrada, em 2006, ano de eleição federal e estadual.

Para especialistas, a retração observada este ano pode estar relacionada a uma tendência de distanciamento entre eleitores e a política partidária, bem como do processo eleitoral. Eles apontam também para a possibilidade de mudança nas disputas locais, que costumam ser protagonizadas por legendas tradicionais. Atualmente, 11% dos eleitores estão em alguma legenda.

A redução no número de filiados se soma à menor participação da população nas eleições, principalmente entre os jovens. Como o GLOBO mostrou em agosto, neste ano, o número de eleitores entre 16 e 17 anos aptos a votar é 55% menor que o contabilizado em 2016 — e é o resultado mais baixo desde 1990, após o voto facultativo para esta faixa etária ser instituído pela Constituição de 1988.

A mudança demográfica também pode explicar a redução do número de brasileiros que podem votar. Em 2016, 91,2% das pessoas acima de 16 anos constavam no cadastro do TSE. Este ano, esse percentual é de 88,9%. Soma-se a isso a crescente abstenção registrada nos últimos pleitos.

— É uma mudança. Menos jovens indo votar, mais idosos na população e uma alta abstenção para esse segmento. E se você deixa de votar, você é excluído (do cadastro) — ressalta Jairo Nicolau, cientista político e pesquisador da Fundação Getúlio Vargas (FGV) — Mas ainda temos um número alto, na comparação com outros países, por conta do voto obrigatório.

A baixa filiação e o menor contingente apto a votar podem gerar efeitos para a política no futuro. O aumento no número de filiados em ano de eleição municipal, segundo especialistas, está relacionado, principalmente, à corrida para vereador. Além do elevado número de postulantes ao cargo, as Câmaras são tradicionalmente tidas como o primeiro passo na carreira política. Candidatos, por sua vez, tentam mobilizar novos filiados até as convenções na tentativa de aumentar seu capital político nas disputas internas.

Foto: O Globo

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