IMPEDIDO DE TOMAR POSSE, CACIQUE ELEITO NO INTERIOR DE PERNAMBUCO USA ESCOLTA ARMADA

Foto: Reprodução/Redes Sociais

Enquanto tenta reverter no Supremo Tribunal Federal a decisão que o impediu de tomar posse como prefeito de Pesqueira, município do Agreste pernambucano, Marcos Luidson de Araújo, 42 anos, o Cacique Marquinhos (Republicanos), não dá um passo sem ser escoltado por homens armados.

A situação de embate político com antigos adversários e o clima de impasse no município a 214 quilômetros de Recife acabaram levando novamente a liderança indígena ao medo de ser assassinado sem que coloque os pés no mandado para o qual foi eleito com 17.654 votos (51,64% dos votos válidos).

Em entrevista ao Metrópoles, o Cacique Marquinhos apontou que a disputa eleitoral reacendeu o velho conflito que tirou a vida de seu pai, Francisco de Assis Araújo, conhecido como “Cacique Chicão”, assassinado aos 46 anos, em 21 de maio de 1988 em decorrência de conflitos territoriais na região.

Cacique Marcos (Republicanos), eleito prefeito em Pesqueira (PE), em versão com e sem cocar

“Eu me sinto injustiçado. Depois de tudo que nos passamos, é muito difícil chegar em um momento como esse e ainda ter que passar por essa situação é muito difícil”, disse.

“São anos de sofrimento desde a época do assassinato do meu pai até hoje, passando por vários sofrimentos por conta da demarcação das terras indígenas. Estamos correndo risco de vida o tempo todo”, reclamou.

Conflito

Na época em que foi assassinado, o pai do prefeito eleito liderava o movimento pela demarcação da terra indígena, hoje demarcada com 26 mil hectares, onde vivem cerca de 12 mil indígenas. Um atentado contra sua vida ou de indígenas de seu grupo não seria uma novidade.

Em fevereiro de 2003, o Cacique Marquinhos foi alvo de um ataque, no qual morreram dois de seus acompanhantes Jozenilson José dos Santos e José Ademilson Barbosa da Silva.

“Andei com proteção policiais por mais de 10 anos. Agora, nas eleições, as medidas cautelares não tinham sido renovadas, mas com a disputa política tive que reforçar minha segurança. Estamos lidando com um sistema local muito pesado. Os mesmos que ocupavam a terra indígena são os que não querem minha posse. Desbancar um grupo político que fazia parte, na época, de todo aquele processo, evidentemente, é reascender todo conflito. Estou andando hoje com pessoas que fazem minha proteção de vida. É uma escolta particular. Amigos que são policiais, Xukurus que se colocaram à disposição para me ajudar enquanto a gente toma as devidas providencias, de tal maneira, que o Estado possa também se responsabilizar por essa situação”, disse.

Condenação

O impedimento da posse se deu com base na Lei da Ficha Limpa, que torna inelegíveis pessoas condenadas em segunda instância. Junto com outros 35 indígenas, Cacique Marquinhos foi condenado em 2015 por incendiar uma casa. Em 2016, no entanto, ele recebeu indulto presidencial de Dilma Rousseff. Apesar da decisão da ex-presidente, para a Procuradoria-Geral Eleitoral (PGE) e para o Tribunal Regional Eleitoral (TRE) de Pernambuco, pela lei, ele permanece inelegível.

O incêndio e os danos a patrimônio ocorreram no mesmo dia do atentado que matou os dois acompanhantes de Marquinhos. Com a morte dos indígenas, parte dos Xukurus reagiu, violou veículos e tocou fogo em uma casa na Vila de Cimbres, localizada dentro do território Xukuru, onde fieis acreditam ter ocorrido, na década de 1930, uma aparição de Nossa Senhora.

Por decisão do presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), o ministro Luís Roberto Barroso, o processo está suspenso até que o plenário do Supremo Tribunal Federal (STF) decida sobre os detalhes da aplicação da Lei da Filha Limpa. Marquinhos Xukuru entrou com um recurso na Corte e espera que na volta dos trabalhos do Legislativo, seu pedido seja analisado.

Em seu lugar, o presidente da Câmara dos Vereadores, Mal do Mimoso, também do Republicanos, assumiu o mandato.

Por Luciana lima/Metrópoles

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