‘TEMOS DE ACREDITAR NA BOA-FÉ DE BOLSONARO’, DIZ GILMAR MENDES

Foto: Divulgação/STF

O Decano do STF (Supremo Tribunal Federal), ministro Gilmar Mendes, disse, em entrevista ao jornal Folha de S.Paulo, nesta  sexta-feira(10), que é preciso acreditar na boa-fé do presidente Jair Bolsonaro (sem partido), após a carta divulgada por ele na quinta-feira (9), na qual recua dos ataques feitos ao ministro Alexandre de Moraes e à Corte.

“Vamos aguardar. Temos de acreditar na boa-fé da manifestação e vamos aguardar os desdobramentos”, disse Gilmar. “Precisamos de diálogo e precisamos verter nossa energia para esse imenso desafio de reconstrução nacional, de superação desse estado de coisa”, completa o magistrado.

Na Declaração à Nação, Bolsonaro disse não ter tido “nenhuma intenção de agredir quaisquer dos Poderes”.

A mudança no tom do mandatário ocorreu após seguidos xingamentos a integrantes do Supremo. No Dia da Independência, Bolsonaro chegou a chamar Alexandre de Moraes de canalha e falou que não cumpriria decisões do ministro.

Gilmar também comenta sobre o que acha de alguns apoiadores bolsonaristas, e diz que eles vivem em “um mundo paralelo”.

“Parece que há esse tipo de percepção da realidade ou de um mundo paralelo. É como se o mundo ficasse mais fácil a partir disso”, diz o ministro.

Para Gilmar, os apoiadores do presidente vivem uma ilusão de que o STF ameaça a governabilidade de Bolsonaro e até integrantes do governo dizem acreditar em notícias falsas a respeito da corte.

Gilmar ainda defendeu o inquérito das fake news e afirmou que, se não houvesse a investigação, o Brasil teria “derrapado para um modelo de perfil muito autoritário”.

Há poucos dias, no 7 de Setembro, o presidente Jair Bolsonaro fez discursos em protestos de apoiadores em que proferiu ataques ao STF, sobretudo aos ministros Alexandre de Moraes e Luís Roberto Barroso. O sr. acha que o presidente se excedeu em críticas à corte e antes também? 

É notório que isto tem sido excessivo. E mais do que isso, é inútil. Tira o foco do que realmente a gente precisa fazer.

Estamos vivendo um quadro inflacionário que há muito não tínhamos. E por quê? Também por causa dessa conflituosidade. O dólar sobe e afeta o preço do petróleo. Está se pagando R$ 7 ou mais pela gasolina. Isso está afetando a vida das pessoas.

É isso que queremos? Vamos ficar nos debatendo sobre isso, agravando a vida das pessoas, que já está muito afetada. Nós estamos falando de quase 600 mil mortos.

Em qualquer lugar nós temos uma família enlutada. Nós perdemos amigos, entes queridos e tudo mais e estamos desafiados a reconstruir. A Europa está discutindo a sua reconstrução econômica. Nos Estados Unidos, veja o programa Biden de reconstrução econômica. E nós?

Discutimos o receio de haver um golpe. É. E, a partir de fantasmagoria, de que o Judiciário está impedindo a governabilidade, quando nada disso se cuida. Pelo contrário, se nós tirarmos a ação do Supremo neste processo da pandemia, certamente, eu não consigo projetar, nós teríamos muito mais milhares de mortos.

O Supremo atuou exatamente neste sentido: fortalecendo o isolamento social, fortalecendo a vacinação, fortalecendo as hospitalizações, a ampliação de vagas nas UTIs. E não o seu contrário.

O sr. acha que o presidente tem uma postura diversionista, então?

 De novo, não quero fulanizar. Mas se tem esse ambiente e a busca de bodes expiatórios. E o tribunal é um vistoso bode expiatório, não é?

As instituições podem dar credibilidade à nota do presidente?

 Vamos aguardar. Temos de acreditar na boa-fé da manifestação e vamos aguardar os desdobramentos.

Eu tenho a impressão de que foi a forma que se concebeu de se fazer uma revisão em relação a isso [aos ataques do presidente]. Eu não vou fazer questionamentos a propósito de estratégias políticas ou estratégias político-eleitorais. Cada qual terá a sua.

E é notório também, não vamos ser ingênuos, que de alguma forma antecipamos o processo eleitoral. O que deveríamos estar discutindo em 2022 nós já estamos discutindo em 2021.

Eu só quero deixar claro que nós estamos cumprindo rigorosamente o nosso papel. Nós nos dedicamos às coisas que, de fato, valem a pena e que podem ter resultados animadores até do ponto de vista eleitoral.

Então, precisamos de diálogo e precisamos verter nossa energia para esse imenso desafio de reconstrução nacional, de superação desse estado de coisa. Não cumprimos a meta de vacinação e estamos a praticar esse novo esporte de agressões contínuas e alguns delírios.

Que delírios? 

É como se fôssemos fazer um “happening” no dia 7 de Setembro e no dia 8 não haverá mais Supremo, não haverá mais Congresso, o mundo estará em outra dimensão.

Delírios por parte dos apoiadores do presidente? 

Parece que há esse tipo de percepção da realidade ou de um mundo paralelo. É como se o mundo ficasse mais fácil a partir disso. Nós temos de saber que depois do dia 7, vem o dia 8, o dia 9, continuamos a ter contas para pagar, que a inflação está aí.

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