PESSOAS QUE TOMARAM IMUNIZANTES DIFERENTES NÃO CONSEGUEM EMITIR CERTIFICADO PARA VIAJAR AO EXTERIOR

Foto: pixabay

Apesar da alta eficácia do mix vacinas para proteger contra a Covid-19, segundo estudos, a intercambialidade tem gerado entraves para a emissão do certificado de vacinação em três línguas pelo ConecteSUS. Quem tomou a primeira dose de AstraZeneca e a segunda de Pfizer não consegue gerar o documento, exigido em países como os da Europa para comprovar a vacinação, apesar de os imunizantes constarem no sistema federal.

O professor de teatro Weslley Fontenele, de 28 anos, conta que a primeira dose de AstraZeneca apareceu no sistema logo que foi aplicada, em junho. Na hora de receber a segunda, a surpresa: a dose foi registrada como CoronaVac, combinação que não é permitida, em vez de Pfizer. A cidade do Rio, onde mora, autorizou que as pessoas que tomaram a vacina da Fiocruz pudessem completar o ciclo com a Pfizer em caso de falta do primeiro imunizante.

Para resolver o erro, bastou retornar ao posto de saúde que um profissional corrigiu a informação no sistema. Contudo, ele enfrenta outro problema: a emissão do certificado de vacinação completa. A falta do documento ameaça a viagem de estudos para a França em 2022, onde faz doutorado em Artes pela Universidade de Montpellier 3 e também pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj).

— Irei ao exterior em junho ou em julho, dependendo das condições sanitárias, e posso vir a ter problema porque o ConecteSUS não gera o passaporte para quem tomou doses diferentes — lamenta.

O caso expõe as complicações de quem precisa viajar e não consegue comprovar a imunização justamente por ter tomado um mix de vacinas, medida que também foi autorizada pela Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo diante da falta de AstraZeneca para a segunda dose.

— O passaporte da vacina, por si só, é um tópico muito controverso. É uma mistura de questões sanitárias e éticas, tanto é que já teve judicialização em alguns estados. Ele pode fazer sentido do ponto de vista sanitário, mas não sem a conscientização da população (sobre medidas preventivas) — analisa o professor de epidemiologia e vice-coordenador da Sala de Situação da Universidade de Brasília (UnB), Mauro Sanchez.

Caso francês

No caso da França, a regra atual é que pessoas vindas do Brasil totalmente imunizadas com Pfizer, Moderna (que ainda não está disponível no país, mas é aceita lá), AstraZeneca ou Janssen podem entrar no território apenas com o certificado de vacinação e com uma declaração de ausência de sintomas e de contato com caso positivo de Covid-19.

A regra muda para os parcialmente ou não vacinados, que devem apresentar, além da declaração, motivo de força maior que justifique a viagem à França, exame negativo de RT-PCR ou de antígeno feito em até 48h antes e outra declaração em que garante realizar teste de antígeno na chegada. Além disso, há necessidade de quarentena de 10 dias em hotel. As informações são do Consulado-Geral do Brasil em Paris.

O caso de Weslley está longe de ser o único. O engenheiro civil Carlos Rafael Guimarães, de 36 anos, planeja viajar em outubro para a Espanha, mas também não consegue emitir o passaporte em espanhol. O morador de Niterói tomou a primeira dose de AstraZeneca em 14 de julho e a segunda, de Pfizer, em 13 de setembro.

— Achei até que pudesse demorar alguns dias para começar a emitir, mas uma amiga foi vacinada com duas doses de Pfizer e já conseguia emitir o dela — conta. — Se eu não conseguir até a época da minha viagem e a companhia me deixar embarcar com a carteira de vacinação, vou ter que contar com a boa vontade do agente de fronteira de aceitá-lo em português.

O Globo

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.

Topo