AQUECIMENTO GLOBAL PODE CHEGAR A 1,5 GRAU CELSIUS NA PRÓXIMA DÉCADA, LEVANDO PLANETA A LIMIAR DA CATÁSTROFE

Rompimento de geleira na província de Santa Cruz, no Sul da Argentina –  Foto: Andres Forza/REUTERS

 Ondas de calor castigam EUA, Canadá e Europa, enchentes assolam países europeus e a China, gelo derrete na Groenlândia em velocidade recorde. Os eventos extremos que afetaram o planeta nas últimas semanas serão cada vez mais comuns e intensos, segundo um relatório lançado nesta segunda-feira pelo Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC).

O documento prevê que o aumento da temperatura global em relação aos níveis pré-Revolução Industrial pode chegar ao patamar de 1,5 grau Celsius já na próxima década. Cientistas reivindicam que a marca não seja ultrapassada até o final do século, diante de riscos como a falência de ecossistemas e o prejuízo à saúde da Humanidade.

O relatório foi divulgado após uma série de reuniões virtuais que ocorreram nas últimas duas semanas entre representantes de governos de 195 países, que se debruçaram sobre o estudo de especialistas e acadêmicos de um dos três grupos de trabalho do IPCC, dedicado às bases científicas da mudança do clima. O levantamento das outras duas equipes será conhecido apenas em fevereiro e março do ano que vem.

O conjunto forma o sexto relatório de avaliação do IPCC, que atualiza os números da edição anterior, de 2013. Pela primeira vez, o levantamento trouxe análises sobre como os extremos climáticos devem atingir cada região. No Brasil, as regiões Sudeste e Sul devem sofrer cada vez mais precipitações intensas, enquanto boa parte do Norte, Nordeste e Centro-Oeste estarão sujeitos à seca, que comprometerá a atividade agropecuária.

Outras inovações são as descrições mais detalhadas do possível futuro do planeta, a depender de fatores como a exploração de recursos naturais e as iniciativas tomadas por cada país para reduzir as emissões de gases de efeito estufa. Os dados calibrados também permitiram antecipar a previsão de quando o mundo chegará à marca de 1,5 grau Celsius de aumento dos termômetros, comparada à temperatura vista antes da segunda metade do século XIX.

— Este relatório é um choque de realidade — disse Valerie Masson-Delmotte, professora da Universidade Paris-Saclay que coliderou a equipe responsável pelo relatório, durante o lançamento desta segunda. — Está claro há décadas que o clima da Terra está mudando e que o papel da influência humana no sistema climático é indiscutível.

Cinco futuros possíveis

Desde 1850, a temperatura do planeta aumentou em 1 grau Celsius e crescerá mais meio grau até o final da década de 2030, segundo os cinco cenários traçados pelo IPCC.

A fórmula para conter o aquecimento global a 1,5 grau Celsius, retratada no cenário mais otimista, exige reduzir pela metade a liberação de poluentes à atmosfera até 2030, zerando as emissões 20 anos depois. Os países também devem se comprometer com metas mais ambiciosas no Acordo de Paris — as atuais dificilmente impedirão que a temperatura global suba, no mínimo, 2,9 graus Celsius, de acordo com análise científica da organização Climate Action Tracker.

No panorama mais pessimista, que não considera qualquer restrição à emissão de poluentes, a temperatura média do planeta aumentará 4,4 graus Celsius até o final do século — vale ressaltar que a superfície continental é mais quente do que a marinha, e que as cidades, onde já vivem mais de 60% da população mundial, são mais vulneráveis do que as zonas rurais a fenômenos como ondas de calor e fortes chuvas.

— O único número aceitável para emissão de poluentes é zero — alerta Stela Herschmann, especialista em política climática do Observatório do Clima. — O nível de certeza científica sobre o papel da ação humana no aquecimento global nunca esteve tão claro. Precisamos que o relatório demonstre a urgência de alavancar as negociações da Conferência do Clima de Glasgow (COP-26, em novembro).

Agência Globo

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