NA CPI DA COVID, RENAN CALHEIROS INVESTIGA EMPRESA SUSPEITA DE FAZER REPASSES ILEGAIS A ELE; CPI IGNORA POSSÍVEL CONFLITO DE INTERESSES

Foto: Sérgio Lima/Poder 360

A CPI da Covid entra em sua reta final evitando discussões sobre o fato de seu relator, o senador Renan Calheiros (MDB-AL), investigar um empresário que é suspeito de ter feito repasses ilegais em favor do próprio congressista, além de outros caciques do MDB.

Esse possível conflito de interesses envolve Francisco Maximiano e sua empresa Global, que tiveram sigilos quebrados na CPI, e transferências de R$ 9 milhões desta firma a Milton Lyra, suspeito de ser operador financeiro de Renan, segundo apurações em inquérito em curso no STF (Supremo Tribunal Federal).

Maximiano está no centro das apurações da CPI do Senado sobre a intermediação de outra empresa dele, a Precisa Medicamentos. Ele tem sido cobrado pela CPI por suas ligações com o deputado Ricardo Barros (PP-PR), líder do governo na Câmara.

Renan teve acesso a um acervo de documentos obtidos em uma devassa nos dados de Maximiano e suas empresas. Na CPI da Covid, foram quebrados sigilos relativos à Global a partir de 2018.

A partir de solicitações feitas por Renan, foram obtidas informações relativas aos dados fiscais, bancários, telefônicos e telemáticos (como contatos, emails e mensagens enviadas) da empresa, sob a justificativa de identificar as supostas irregularidades relacionadas à pandemia.

Ainda é solicitada a comparação de movimentação financeira em relação aos três anos anteriores ao período em questão —ou seja, a partir de 2015. Não houve questionamentos a respeito da isenção de Renan para analisá-los.

Em tese, Renan terá à sua disposição dados e documentos que já foram ou podem ser recolhidos em medidas de busca e apreensão pela Polícia Federal, e assim ter conhecimento antecipado sobre elementos que eventualmente podem ser usados na investigação do STF. ​

A pedido da CPI, já houve busca e apreensão da Polícia Federal no último dia 17 em endereços da Precisa, nas cidades de Itapevi e Barueri (ambas na Grande SP). A ação policial foi realizada sob a justificativa de que era necessário obter documentos principalmente relativos à negociação da Covaxin, que supostamente a empresa ocultava.

Procurado pela reportagem, Renan afirmou por meio de sua assessoria que “a ilação feita na matéria é uma das coisas mais absurdas de que se tem notícia”.

“O senador sequer conhecia Maximiniano antes da CPI e jamais teve operador”, disse, em nota. “Não por acaso, falsas imputações e ilações irresponsáveis já levaram ao arquivamento de mais de 2/3 das acusações feitas contra ele nos últimos anos. Esse inquérito por certo terá o mesmo destino.”

Apesar de a quebra de sigilo da Global se iniciar em 2018, essa data não é padrão da CPI. No caso de Ricardo Barros, há quebras que se iniciam no ano de 2016, assim como no caso de informações fiscais da Precisa Medicamentos.

Nos últimos dez anos, Maximiano não se envolveu apenas no escândalo das vacinas. O empresário também é suspeito de repasses que são investigados pela Polícia Federal e pelo Ministério Público Federal.

Um desses inquéritos, que tramita no Supremo desde agosto de 2017, aponta suspeitas de que transferências da Global tinham como destinatário final o senador Renan Calheiros.

Não tem havido na CPI questionamentos sobre a possibilidade de conflito de interesses nessas apurações conduzidas pelo senador a respeito de empresas que fazem parte de apurações que o envolvem.

A questão foi mencionada na CPI quando o senador Flávio Bolsonaro (Patriota-RJ), filho do presidente Jair Bolsonaro, provocou Renan ao citar Milton Lyra e o inquérito, em julho. Renan disse que era “uma questão absolutamente inverdadeira”.

“Eu nunca tive operador na minha vida. Minha vida sempre foi transparente, absolutamente transparente. Nunca me acusaram de ter operador. Quem é acusado de ter operador é o senador Flávio Bolsonaro”, respondeu. Após a troca de acusações, a sessão prosseguiu.

O inquérito no STF é relatado pelo ministro Luís Roberto Barroso e investiga suposto pagamento de benefícios a Renan por empresários que fizeram negócios relacionados ao fundo de pensão de funcionários dos Correios, o Postalis.

Folha de São Paulo

 

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